Toda empresa possui sua própria cultura e, dentro de cada empresa, todo departamento também possui sua própria cultura. Além disso, cada pessoa tem seus princípios e valores que norteiam seus passos pela vida. Neste e nos próximos capítulos vou falar sobre a cultura, os valores e os princípios que acredito serem obrigatórios para criar produtos digitais de sucesso. E também, quais são os 4 principais valores que toda equipe de desenvolvimento de produtos e, consequentemente, toda empresa que tenha times de desenvolvimento de produtos digitais deve ter.
Vou começar esta parte do livro compartilhando meus princípios pessoais de liderança. Serão cinco:
Falarei desses princípios ao longo deste e dos próximos capítulos, a começar pelo princípio de que pessoas são a prioridade nº 1, sempre.
Muitas vezes vejo empresas afirmando que a valorização da empresa, a receita, o crescimento, o lucro, o número de clientes, ou a satisfação do cliente é sua prioridade número 1. Todas são boas prioridades e cada uma é apropriada para contextos específicos em que uma empresa pode estar. No entanto, eu argumento que elas devem ser prioridade número 2, 3, 4 e assim por diante, porque nossa prioridade número 1 deve sempre ser as pessoas que fazem parte nossa equipe. Sem as pessoas que trabalham conosco, será muito difícil, se não impossível, atingir qualquer outro objetivo que tenhamos.
Gastamos dinheiro e energia atraindo as melhores pessoas e convencendo-as a se unirem à nossa empresa para construir o que pretendemos construir para atingir a meta que estabelecemos. Pagamos a elas para estarem conosco durante todo o processo de construção e normalmente ficamos chateados quando perdemos pessoas da nossa equipe, especialmente se elas estiverem realmente engajadas e alinhadas com nossos objetivos. Portanto, as pessoas da nossa equipe são como clientes, gastamos dinheiro e energia para adquiri-las e retê-las. Mas elas são ainda mais importantes do que nossos clientes, porque sem a nossa equipe, não há como sermos capazes de lidar com nossos clientes e alcançar nossos objetivos.
Isso não significa que precisamos ser “bonzinhos” com nossa equipe, ou que devemos dar tudo o que eles pedem. O que precisamos fazer é equilibrar as pressões externas e internas para que as pessoas possam melhorar continuamente. Se a pressão externa estiver aumentando, precisamos criar o ambiente e fornecer as ferramentas para que as pessoas fiquem mais motivadas, tenham mais drive e aumentem sua força interior. E se temos pessoas ou equipes com excesso de motivação e de energia, precisamos dar a elas mais responsabilidades e objetivos mais elevados. No capítulo Liderando sob pressão vou falar mais sobre esse equilíbrio.
O termo maçã podre, apesar de bastante forte, serve para descrever uma situação bastante delicada na formação e gerenciamento de times. Chamamos de maçã podre a pessoa que destoa negativamente do resto do time e que, com seu comportamento, poderá estragar a equipe.
A InfoQ (https://www.infoq.com/news/2009/01/handling-your-underperformer/) falou bastante sobre esse tema da maçã podre do ponto de vista técnico, o under-performer, aquele que é ou está tecnicamente abaixo do resto da equipe e mostrou como o time pode ajudar essa pessoa a melhorar.
Agora, o que fazer quando nos deparamos com uma maçã podre do ponto de vista comportamental? Alguém que é tecnicamente bom, mas que tem problemas de comportamento? Tecnicamente essa pessoa pode ter bastante para contribuir para o time mas seu comportamento faz com que o time não consiga ter um bom relacionamento com essa pessoa.
Nesses casos há dois caminhos a seguir:
É fácil receber no time pessoas fáceis de lidar. O desafio é receber uma pessoa difícil e ajudá-la a se integrar ao time. Os valores do time devem ser mais fortes que os valores da pessoa difícil ao ponto de os valores do time serem absorvidos e assumidos pela pessoa difícil.
Conversas francas com todo o time e com a pessoa difícil são um bom caminho. A transparência é essencial. Se houver boa vontade e disposição tanto do time quanto da “maçã podre”, há boas chances de a situação ser revertida.
Vale lembrar que, na maioria das vezes, uma maçã podre não quer ser maçã podre. Ele pode não se dar conta de que seu comportamento é prejudicial para o time. Ele pode ter tido experiências anteriores onde seu comportamento seria considerado normal. Por isso vale investir em ajudar o time e a pessoa difícil a se entenderem. Contudo, não dá para tentar indefinidamente fazer com que as coisas se ajeitem. É importante definir um prazo para reavaliar a situação e, caso ela não tenha se resolvido, talvez não haja outra opção a não ser tomar uma decisão mais difícil: dispensar uma ou mais pessoas do time.
No próximo capítulo vamos entender como deve ser o trabalho de um líder por meio da analogia de que liderar é como ser um médico.
Este artigo faz parte do meu mais novo livro, Liderança de produtos digitais: A ciência e a arte da gestão de times de produto, onde falo sobre conceitos, princípios e ferramentas que podem ser úteis para quem é head de produto, para quem quer ser, para quem é liderado por ou para quem tem uma pessoa nesse papel na empresa. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livros: