Em fevereiro de 2011 fui submetido a uma cirurgia de substituição de disco da coluna cervical. O médico fez a cirurgia no dia 25 de fevereiro. No entanto, o processo de cicatrização levou meses. Segundo o médico, poderia demorar um ano até que todos os sintomas que motivaram a cirurgia desaparecessem.
O que me chamou a atenção é que o cirurgião só faz uma intervenção, mas todo o processo de cicatrização é feito pelo corpo. O mesmo acontece quando um médico prescreve um remédio, que também é uma intervenção, mas, novamente, cabe ao corpo todo o processo de cura.
Liderar uma equipe é bastante semelhante. O líder deve fazer algumas intervenções quando necessário, mas cabe à equipe fazer o trabalho para atingir os objetivos.
Em uma das minhas leituras sobre liderança, encontrei uma comparação interessante entre liderança e jardinagem feita por Jurgen Appelo, autor do livro Management 3.0: Leading Agile Developers, Developing Agile Leaders:
“Costumo comparar gestores a jardineiros. Um jardim não cuidado é normalmente cheio de ervas daninhas, não de beleza. De uma perspectiva biológica, não há diferença. De qualquer forma, o ecossistema no jardim é auto-organizado. É preciso um jardineiro (autorizado pelos proprietários do jardim) para transformar um jardim anarquista em algo que os proprietários vão desfrutar. Da mesma forma, é necessário um gestor (autorizado pelos acionistas) para conduzir as equipes auto-organizadas em uma direção que agregue valor aos acionistas.“
Mesmo que eu goste dessa comparação, ela considera que o jardineiro/gestor deve interferir constantemente, o que não acredito ser um comportamento adequado para um gestor. Na minha opinião, a interferência de um gestor deve ser feita apenas quando necessária e, após a interferência, a equipe deve trabalhar por si mesma para resolver as coisas com pouca ou nenhuma intervenção desse gestor. Daí a minha comparação com uma médica que interfere apenas quando necessário, prescrevendo mudança de hábitos, remédios, fisioterapia e/ou cirurgia e que deixa o corpo fazer o trabalho e se responsabilizar pelo processo de cura.
No próximo capítulo vamos entender como liderar sob pressão.
Este artigo faz parte do meu mais novo livro, Liderança de produtos digitais: A ciência e a arte da gestão de times de produto, onde falo sobre conceitos, princípios e ferramentas que podem ser úteis para quem é head de produto, para quem quer ser, para quem é liderado por ou para quem tem uma pessoa nesse papel na empresa. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livros: