Tenho visto com cada vez mais frequência manifestações sobre diversidade. Não sou muito de assistir TV, mas certo dia em 2017 acabei vendo um pouco de TV Globo. Peguei o final do Jornal Nacional e o início da novela. No Jornal Nacional, vi uma matéria sobre a PUC de São Paulo inaugurando banheiros unissex – lembrando que PUC é Pontifícia Universidade Católica, uma universidade ligada à religião Católica. Em seguida, na novela apareceu uma personagem que estava contando para os pais e familiares que ela nasceu no corpo errado, que era um homem que havia nascido em um corpo de mulher, ou seja, que ele era transgênero. Em seguida, durante o intervalo, veio a campanha da Globo intitulada “Tudo começa pelo respeito” sobre respeito à identidade de gênero.
Isso é muito bom! Aceitar e respeitar as diferenças é a base para evoluirmos como sociedade e construirmos um futuro cada vez melhor para nós, para nossos filhos e para toda a humanidade.
Quando faltam o respeito e a capacidade de aceitar a diversidade, podem acontecer situações muito ruins, por exemplo, de pais rejeitando o próprio filho. Fiquei bastante impressionado quando li o relato da Daniela Andrade, consultora sênior da ThoughtWorks, onde ela conta que:
“Como fui expulsa da casa dos meus pais, por ser transexual —  e aqui eu digo que a primeira grande violência que sofremos é dentro de casa  —  há muitos anos não tenho parentes com quem contar em momentos de necessidade, todos deram as costas para mim.”
Como é possível um pai rejeitar a própria filha? Sou pai e sei como o amor de pai é algo muito intenso, capaz de passar por cima de qualquer problema para podermos sempre ajudar e suportar nossos filhos. Estava conversando outro dia com minha esposa sobre esse relato e sobre a dificuldade das pessoas em aceitarem as diferenças, ao ponto de rejeitarem seus próprios filhos. Foi nesse momento que minha esposa disse uma frase que me marcou. Ela disse que, em última instância, todas as pessoas são diferentes. Transgênero, cisgênero, heterossexual, homossexual, bissexual, assexual, negro, branco, amarelo, jovem, adulto, meia-idade, terceira idade, brasileiro, canadense, francês, vietnamita, fluminense, mineiro, paulista, carioca, belo-horizontino, corredor, ciclista, nadador, engenheiro, arquiteto, advogado, quem gosta de música pop, rock, jazz, clássico e assim por diante. Mesmo gêmeos idênticos são diferentes.
Se todas as pessoas são diferentes, aceitar e respeitar as diferenças não é só desejável, é necessário e obrigatório para que possamos viver em sociedade de uma forma mais harmônica e sustentável. São valores que devem ser ensinados para todas as pessoas desde o berço.
Além da importância de aceitar e respeitar as diferenças para ajudar a criar uma sociedade mais harmônica e sustentável, a diversidade vai ajudar a criar produtos digitais cada vez melhores por dois motivos:
Por isso é tão importante refletir e conversar sobre o assunto diversidade. Só assim você poderá pensar em questões tão essenciais para o sucesso do seu produto. Como melhorar a diversidade do seu time de desenvolvimento de produto? Como fomentar discussões que trazem diferentes pontos de vista e ajudam a enxergar sob novos ângulos o seu produto e os problemas que ele ajuda a resolver?
Em todos os times que liderei eu trouxe esse tema para ser discutido. Juntos pensamos em como poderíamos melhorar essa diversidade. Um exemplo interessante do resultado desse trabalho ao longo de 12 meses foi o que conseguimos fazer no Gympass, com um aumento de 5 pontos percentuais.
Na Conta Azul conseguimos algo similar entre 2016 e 2018 com um aumento de 6,1 pontos percentuais.
A equipe de desenvolvimento de produto é composta por engenheiras de software, designers de experiência do usuário e gestoras de produto. Cada uma tem uma perspectiva diferente do que é um bom produto e essas diferenças são o que ajudam a criar um produto melhor, quando as diferenças são bem resolvidas pela equipe.
Algum tempo atrás, ouvi a seguinte frase:
O fato de duas pessoas discordarem não significa necessariamente que uma delas esteja errada.
Isso realmente me fez pensar na diversidade de perspectivas. Isso tem a ver com empatia, uma das 7 características essenciais de um gestor de produto. Empatia é a habilidade de alguém de pisar no lugar de outra pessoa para entender suas aspirações, motivações, necessidades e problemas. Qual é o seu contexto? Como ela vê e ouve as coisas? O que a faz entender as coisas nessa perspectiva?
Existe uma ótima ferramenta chamada mapa de empatia, que tem o objetivo de ajudar as equipes a obter uma visão mais profunda de seus clientes.
As pessoas têm diferentes origens, diferentes histórias, diferentes conhecimentos. Devemos reconhecer e respeitar essas diferenças e entender que à s vezes não chegaremos a um acordo, mas tudo bem, desde que respeitemos a perspectiva uns dos outros. Talvez possamos criar uma terceira perspectiva a partir das duas diferentes. Talvez possamos decidir experimentar uma delas, ou ambas, e ver e comparar os resultados.
Desde que haja respeito e empatia, a diversidade traz muitos bons resultados para todos.
Com este capítulo, terminamos de ver o que é cultura e quais são, na minha opinião, os 5 principais valores que toda a empresa deve ter para desenvolver produtos de sucesso:
Nos próximos capítulos vamos ver mais dois valores que, com base em minha experiência, são o coração de uma cultura de produto digital.
Este artigo faz parte do meu mais novo livro, Liderança de produtos digitais: A ciência e a arte da gestão de times de produto, onde falo sobre conceitos, princípios e ferramentas que podem ser úteis para quem é head de produto, para quem quer ser, para quem é liderado por ou para quem tem uma pessoa nesse papel na empresa. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livros: