Retrospectiva 2023 e perspectivas para 2024 para a gestão de produtos
O ano de 2023 foi um ano difícil para as empresas de tecnologia e, consequentemente, para os times de desenvolvimento de produtos, que são compostos por pessoas de engenharia, design e de gestão de produtos. Devido ao cenário econômico desafiador do ano que passou, muitas empresas de tecnologia acabaram mudando de uma estratégia fortemente focada em crescimento para uma fortemente focada em lucratividade, o que fez muitas dessas empresas usarem os desligamentos em massa ou, em inglês layoffs, como uma das táticas para atingir a lucratividade. Google, Meta, Microsoft, Amazon, Uber, Airbnb, Netflix, Spotify, e várias outras empresas tomaram esse caminho. Os gráficos abaixo mostram como foram os layoffs no Brasil e no mundo nas empresas de tecnologia.
Os gráficos acima mostram que os layoffs em empresas de tecnologia continuam acontecendo, com o Brasil tendo uma leva grande de demissões em dezembro, o que não aconteceu globalmente.
Esses layoffs foram duros com todo o times de desenvolvimento de produto, pessoas de engenharia, de design e de produto. Contudo, as pessoas de produto sofreram um golpe adicional proveniente de duas entrevistas dadas por Brian Chesky, co-founder e CEO do Airbnb:
A primeira foi no dia 22 de junho, na conferência Config, da empresa Figma, cujo principal produto é uma ferramenta de design de interação colaborativa, durante uma sessão intitulada “Liderando pela incerteza: um empresa liderada por design”, onde Dylan Field, CEO e co-founder da Figma, entrevistou Brian Chesky. Nessa entrevista, depois dele explicar o que aconteceu com o Airbnb durante a crise da pandemia, ele diz que, dentre as várias mudanças feitas, eles “se livraram da gestão de produtos clássica, e combinaram marketing de produto e gestão de produto, como a Apple faz”, o que causou bastante barulho no mercado.
A segunda foi publicada no dia 12 de novembro, no Lenny’s Podcast, um podcast bastante focado em gestão de produto. O episódio com Brian Chesky tem o título de “novo playbook de Brian Chesky” e por volta dos 28:29 minutos, Brian diz que na época da pandemia ele passou a “revisar todo o trabalho, criando o review do CEO onde eu volto a me envolver semanalmente em todas as iniciativas de produto e de marketing” e que eles estão rodando assim até hoje. Ou seja, desempoderando os times de produto e trazendo a decisão para a pessoa CEO, o que é conhecido como modelo de gestão comando-e-controle. Marty Cagan escreveu um ótimo artigo sobre essa entrevista do Brian Chesky comentando sobre como ele está movendo o Airbnb para um modo de operação comando-e-controle, com feature teams.. Mike Fischer, ex-VP de engenharia do PayPal e ex-CTO da Etsy, e que tb prestou consultoria para Locaweb em 2008/2009, também escreveu um ótimo artigo criticando o novo playbook do Brian Chesky e como esse playbook vai afetar a capacidade do Airbnb de escalar, o moral dos funcionários e a capacidade de inovação.
Essas discussões servem para gerar dúvidas sobre a relevância do papel da gestão de produto. Para as pessoas que estão fora do desenvolvimento de produto ou que são novas nesse mundo, os papéis da engenharia e do design são razoavelmente tangíveis, ou seja, para quem não é da área é possível entender o que faz uma pessoa de engenharia e uma pessoa de design. Contudo, para essas pessoas que não são da área, o papel da gestão de produtos pode não ser tão imediatamente tangível.
Por outro lado, o ano de 2023 teve muito coisa bacana em tecnologia. Muito se falou em AI em geral e, mais especificamente em Generative AI, e no que a AI pode fazer. Eu, como fã dos Beatles que sou, fiquei muito feliz de vê-los mais uma vez reunidos, graças à tecnologia, mais especificamente à AI, na belíssima “Now and Then”:
Além da AI, outro tema que apareceu de forma rápida em junho foi a computação espacial com realidade virtual e aumentada trazida pela Apple no seu Apple Vision Pro, prometido para o início de 2024.
Como todos os anos, temos novas tecnologia aparecendo. Nos anos anteriores os temas eram NFT, Multiverso e Blockchain:
Em 2023 o termo AI entrou forte no nosso vocabulário:
Ou seja, novas tecnologias continuam sendo criadas e disponibilizadas para nos ajudar a criar soluções cada vez melhores para nossos problemas.
Retrospectiva 2023 para a área de produtos
Resumidamente, o ano de 2023 teve aspectos positivos e negativos para a área de produtos. Do ponto de visto negativo:
o cenário econômico difícil fez com que as empresas de tecnologia buscassem a lucratividade e, consequentemente, acabaram usando a ferramenta de demissões em massa para fazer isso.
essa busca por lucratividade e resultados mais rápidos, associado a entrevistas de figuras importantes na nossa indústria como o Brian Chesky, CEO e co-founder do Airbnb, colocaram em dúvida a necessidade do papel de gestão de produtos dentro dos times de desenvolvimento de produto.
Por outro lado, o principal aspecto positivo de 2023 foi:
a tecnologia que avançou de forma rápida com bastante aplicabilidade em nosso dia-a-dia. Em 2023 a AI, por meio da AI generativa, mostrou mais uma vez como a tecnologia pode ser útil e poderosa para nos ajudar a criar soluções inovadoras para nossos problemas. Nos 2 anos anteriores tivemos algumas tecnologias interessantes como NFT, Multiverso e Blockchain, mas com aplicabilidade restrita em nosso dia-a-dia a cenários específicos.
Perspectivas para 2024 para a área de produtos
Quem me conhece sabe que não sou de fazer predições. Meu intuito aqui é trazer o que vejo como perspectivas, possibilidades para a área de produtos em 2024. Antes, porém, vamos falar do cenário de 2024:
O cenário econômico para 2024 parece um pouco melhor mas as empresas estão longe de abandonar o objetivo da lucratividade, da geração de resultados. Ao contrário, as empresas continuarão buscando operar de forma mais saudável, gerando lucro. Aliás, os VCs (Ventures Capital ou fundos de investimento de risco) têm valorizado mais a lucratividade do que o crescimento quando avaliam oportunidades de investimento em startups. Claro que é importante o crescimento, mas não o crescimento a qualquer custo. É preciso estar claro o(s) caminho(s) para lucratividade. Como essa empresa vai gerar dinheiro para financiar suas atividades?
Além disso, novas tecnologias continuarão surgindo. 2023 foi o ano da popularização da AI, reforçando o poder que a tecnologia tem para ajudar a criar soluções para os problemas ou atender necessidade do dia-a-dia e, consequentemente, gerar mais resultado para as empresas que construírem essas soluções. Desde os anos 2000, há meros 23 anos atrás, muitas novas tecnologias apareceram que hoje temos como parte de nosso dia-a-dia. Alguns exemplos são redes sociais, smartphones, mapas online, video online e streaming de video e áudio, carros elétricos, impressão 3D, internet das coisas e seus sensores, e assim por diante. Uma certeza que podemos ter é que novas tecnologias serão criadas. Apple já anunciou o seu Apple Vision Pro para o início de 2024, trazendo realidade virtual e aumentada e o conceito de computação espacial. E novas tecnologias continuarão aparecendo.
Busca pela lucratividade e o constante surgimento de novas tecnologias. Esse será o cenário de 2024 e, muito provavelmente, dos anos seguintes para a gestão de produtos e para os times de desenvolvimento de produto. E o que fazer nesse cenário? Duas coisas:
Entender o papel das tecnologias: recomendo olhar para as tecnologias sob 3 óticas. A primeira é sob o impacto que a tecnologia poderá ter no desenvolvimento de produto. Novas linguagens de programação, novos bancos de dados, novos frameworks, GenAI para desenvolvimento de código, etc. A segunda é sob a ótica da interface do seu produto com o usuário. Primeiro os produtos eram usados apenas na web, depois via smartphones, depois em relógios e, por algum tempo, em óculos. Agora, com o lançamento previsto do Apple Vision Pro, como o seu produto precisará se adaptar? Por fim, o terceiro aspecto, é o aspecto que chamo de incógnita. O que essa nova tecnologia permite que sem ela não era possível? Como essa tecnologia pode impactar na resolução do problema que estamos buscando solucionar? Note que esse entendimento sobre como novas tecnologias podem impactar o produto deve ser feito por todos do time de produto, e não somente pelas gestoras de produto.
Foco na entrega de resultado: tenho repetido em vários talks e podcasts que, apesar de nossa função de ser de gestão de produtos, essa não é nossa razão de existir. Nossa razão de existir é gerar resultados e atingir os objetivos da empresa, e o produto é um meio, um veículo para isso. Não acordamos de manhã para fazer produtos, funcionalidades, sites, apps, algoritmos. Nós fazemos produtos, funcionalidades, sites, apps e algoritmos para atingir os resultados. Não podemos nos esquecer disso. Já escrevi sobre tema de entrega de resultado nesse artigo, que é parte do meu livro sobre Liderança de produtos digitais e do meu mais novo livro sobre Trasnformação digital e cultura de produto. Entrega de resultado é um dos 4 princípios essesncias de uma cultura de produto de sucesso, que é o núcleo de meu último livro. Aqui estão 2 slides que uso para explicar esse princípio em minhas apresentações:
Bônus: perspectivas para 2024 para líderes de times de produto
Já falei bastante aqui sobre a importância de entrega de resultado e que o produto é o veículo para essa entrega de resultado. E para as líderes de times de produto? Estou falando aqui de GPMs, heads de produto, diretoras, VPs, CPOs, e daquela pessoa CTO ou head de tecnologia que também lidera a área de produtos. Quais são suas perspectivas para 2024?
Se você pensou em gerar resultado, você está parcialmente certo. Quando uma pessoa está em um papel de liderança em um time de produtos, ela continua tendo a responsabilidade de gerar resultado com o produto sim, mas com o melhor retorno do investimento possível. Desenvolver produtos custa caro. No Brasil, considerando um salário médio mensal de R$ 12.000, o custo anual de um time de 6 pessoas é de aproximadamente R$ 864.000 sem considerar custos trabalhistas. Nos EUA, com salário médio mensal em torno de U$ 100.000 por ano, o custo do time é de U$ 600.000. Já na Europa, com salário médio em torno de U$ 60.000 por ano, o custo do time é de U$ 360.000. Isso sem contar os custos de ferramentas e infra-estrutura necessárias para o desenvolvimento e operação do produto. Agora imagine que vc lidera 3 times desses de 6 pessoas, sendo um total de 20 pessoas. São mais de R$ 2,5MM por ano no Brasil, U$ 1,8MM por ano nos EUA e U$ 1MM na Europa. É bastante dinheiro. CEOs, C-levels, outras lideranças da empresa, founders, conselho, acionistas e toda a empresa tem a expectativa de que esse investimento dê retorno, ainda mais no cenário atual em que lucratividade é o foco principal.
Como líderes de produto, temos a responsabilidade de buscar o melhor retorno possível para esse investimento em pessoas, ferramentas e infra-estrutura para desenvolvimento e operação de produto.
Aqui vão mais 2 slides que uso em minhas aulas para falar desse tema:
Copo meio cheio
Como já comentei anteriormente, sou do grupo de pessoas que sempre enxerga o copo meio cheio. Apesar do cenário econômico incerto, que fará as empresas continuarem com foco em lucratividade, o constante surgimento de novas tecnologias vai abrir muitas oportunidades para pessoas que souberem conectar tecnologia com negócio. É exatamente isso o que uma gestora de produto faz, conecta tecnologia com negócio, resolvendo problemas das clientes.
Por isso, cada vez mais todas as empresas, e não somente as empresas de tecnologia, vão precisar de pessoas gestoras de produtos, capazes de fazer essa conexão entre tecnologia, negócio e cliente. Essa foi uma das motivações para eu escrever meu último livro sobre Transformação digital e cultura de produto, para ajudar as empresas a entenderem como tirar melhores resultados de seus investimentos em tecnologia, trazendo pessoas experientes em gestão de produto para os seus times.
Que tenhamos todos um 2024 incrível repleto de ótimos resultados! 🙌
Resumindo
Retrospectiva 2023:
Em 2023, o cenário econômico difícil fez com que as empresas de tecnologia buscassem a lucratividade e, consequentemente, acabaram usando a ferramenta de demissões em massa para fazer isso.
essa busca por lucratividade e resultados mais rápidos, associado a entrevistas de figuras importantes na nossa indústria como o Brian Chesky, CEO e co-founder do Airbnb, colocaram em dúvida a necessidade do papel de gestão de produtos dentro dos times de desenvolvimento de produto.
Por outro lado, em 2023 tivemos a AI e, partilarmente, a AI generativa, mostrando mais uma vez como a tecnologia pode nos ajudar a criar soluções inovadores para os problemas e necessidades das clientes.
Perspectivas 2024:
O cenário econômico para 2024 parece um pouco melhor mas as empresas estão longe de abandonar o objetivo da lucratividade, da geração de resultados. Ao contrário, as empresas continuarão buscando operar de forma mais saudável, gerando lucro.
Além disso, novas tecnologias continuarão surgindo. Nos últimos 23 anos vimos o surgimento de redes sociais, smartphones, mapas online, video online, streaming de video e áudio e muito mais. 2023 foi o ano da popularização da AI. Certamente 2024 trará novas tecnologias, e a Apple já prometeu o Apple Vision Pro para o início do ano.
Em função disso, as gestoras de produto precisam entender como as novas tecnologias podem impactar o produto, tanto no desenvolvimento, quanto na interface quanto em maneiras novas, que ainda vamos descobrir.
Em 2024 as gestoras de produto deverão se focar ainda mais em entrega de resultado, tanto para a cliente para quem o produto irá resolver um problema, quanto para a empresa que tem objetivos claros para aquele produto.
E as líderes de produto deverão, em 2024, não só se focar em entrega de resultado. Desenvolver produto custa caro, time de desenvolvimento de produto, mais ferramentas, mais infra-estrutura para desenvolvimento e operação de produto custam bastante. Por isso as líderes de produto deverão se focar ainda mais em melhorar o retorno do investimento feito no desenvolvimento e operação de produto.
Com o crescente surgimento de novas tecnologias, todas as empresas, e não só as empresas de tecnologia, vão precisar de pessoas gestoras de produtos, capazer de conectar negócios e tecnologia, para resolver os problemas dos clientes.
Que tenhamos todos um 2024 incrível repleto de ótimos resultados! 🙌
Educação Continuada em Gestão de Produtos e Transformação Digital
O Programa In-Company de Educação Continuada em Gestão de Produtos e Transformação Digital irá ajudar você e sua equipe a aumentarem seus conhecimentos sobre conceitos, princípios e ferramentas de gestão de produtos e, consequentemente, aumentar a taxa de sucesso de seus empreendimentos de produtos digitais.
Esse programa é composto de 3 elementos:
Palestra de kick-off para toda a empresa, intitulada Lições Aprendidas de um Transformação Digital, onde apresento através de exemplos práticos como a cultura de produto pode potencializar a jornada de digitalização da uma empresa.
Treinamento mensal sobre temas de gestão de produto e de transformação digital, para ajudar as pessoas da empresa a conhecerem conceitos, princípios e ferramentas que ajudam na criação de produtos digitais de sucesso. Existe uma sequência padrão, que pode ser revisada para se adequar às necessidades da empresa. Devem participar desse treinamento todas as pessoas de produto e de design, as lideranças de tecnologia e as lideranças das outras áreas da empresa. Para conhecer mais detalhes sobre o conteúdo, acesse esse documento.
Mentoria, sessões individuais ou em grupo, onde trabalhamos temas vistos nos treinamentos ou outros temas que sejam relevantes.
As sessões podem ser presenciais ou remotas! Confira na página de testemunhos o que as pessoas dizem de meus serviços. Confira também a lista de clientes que já atendi.
Faz sentido para a sua empresa? Vamos conversar! É só entrar em contato comigo por email ou WhatsApp, ou marcar um horário na minha agenda.
Treinamento e consultoria em gestão de produtos e transformação digital
Ajudo líderes de produto (CPOs, heads de produtos, CTOs, CEOs, tech founders, heads de transformação digital) a enfrentarem seus desafios e oportunidades de produtos digitais por meio de treinamentos e consultoria em gestão de produtos e transformação digital.
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Gestão de produtos digitais
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