Esse artigo é mais um trecho do meu mais novo livro “Transformação digital e cultura de produto: Como colocar a tecnologia no centro da estratégia da sua empresa“, que vou também disponibilizar aqui no blog. Até o momento, já publiquei aqui:
Vamos agora para o capítulo 3, sobre:
Uma compreensão fundamental para o sucesso da transformação digital nas organizações é a do conceito de tipo de empresa. Esse conceito é utilizado para classificar as empresas de acordo com o tipo de produto ou serviço que elas oferecem aos seus clientes, baseado no uso da tecnologia por esse produto ou serviço. Sob essa perspectiva, podemos enxergar duas categorias principais de empresas: as empresas digitais, cujo produto é a própria tecnologia, e as empresas tradicionais, cujo produto não é a tecnologia em si, mas que podem potencializar seus negócios com o uso da tecnologia.
Isso tem impacto direto em como as pessoas responsáveis pela transformação digital farão o seu trabalho. Ao entender como a sua empresa é classificada, é possível adaptar a estratégia de transformação digital para atender às necessidades específicas do seu mercado e maximizar os resultados.
As empresas digitais são empresas cujo produto vendido é o software ou a tecnologia que a empresa desenvolve. Todos nós conhecemos empresas digitais: Google, com seus principais produtos, Google Search e GMail; Amazon Web Services (AWS); Facebook; Instagram; WhatsApp; SAP; Salesforce; Zendesk. As empresas em que trabalhei, Locaweb e Conta Azul, e a que fundei, a Dialdata. A tecnologia é o core de seus produtos. Se não houver a tecnologia, não há empresa. Você consegue imaginar o Google sem o software de pesquisa do Google? Ou o Instagram sem o aplicativo Instagram? Ou o Zendesk sem o software do Zendesk?
Nessas empresas, a gestão de produtos é o core da empresa. A gestão de produtos é responsável por definir uma boa parte ou até mesmo toda a visão e a estratégia da empresa. O papel das pessoas de tecnologia é central nessa definição, bem como na execução dessa estratégia.
Na outra ponta do espectro, há o que podemos chamar de empresas tradicionais. Essas empresas vendem produtos e serviços que não são produtos digitais. No entanto, todas elas estão, de uma forma ou de outra, passando por algum tipo de transformação digital, aprendendo a usar as tecnologias digitais para potencializar seus negócios.
Estes são alguns exemplos de melhorias que podem resultar do uso de tecnologias digitais:
Vou citar alguns exemplos brasileiros conhecidos. O Itaú, um dos maiores bancos brasileiros, fundado em 1924, está investindo muito para se tornar digital, com o Internet Banking e seu aplicativo. De tempos em tempos, eles lançam campanhas de TV para mostrar essa transformação. A Magazine Luiza, uma rede de varejo física fundada em 1957, também investe muito em sua presença digital. Eles são bem conhecidos no Brasil por sua presença on-line e seus aplicativos. A Lopes é uma imobiliária brasileira, líder no seu segmento no país. Realizou seu IPO em dezembro de 2006 na B3, a bolsa de valores brasileira, sediada na cidade de São Paulo, e, em outubro de 2019, realizou um follow-on, a emissão de mais ações para serem negociadas no mercado de capitais, no montante de R$ 147 milhões, cujos recursos captados focam na transformação digital da companhia, que liderei entre 2020 e 2022. Outros bons exemplos de empresas tradicionais que investem em presença digital são companhias aéreas e hotéis. Eles têm sites e aplicativos para interagir com seus clientes e para lhes permitir comprar passagens e fazer reservas.
Nas empresas tradicionais, seus produtos ou serviços existem e provavelmente existiram por muito tempo sem a tecnologia digital. Executivos e acionistas dessas empresas estão começando a entender como as tecnologias digitais podem impactar seus negócios e estão investindo na transformação digital.
Nessas empresas, as pessoas de tecnologia são vistas como potencializadoras, mas não são o core. Normalmente, fazem parte de uma equipe chamada a “equipe digital”. Essas pessoas terão que ganhar seu espaço, mostrando como a tecnologia pode potencializar os negócios.
Esse tipo de empresa possui produtos ou serviços tradicionais que poderiam existir sem tecnologia. Entretanto, como elas incluem a tecnologia desde o início como uma capacidade estratégica, elas são consideradas empresas de tecnologia — e, de certa forma, são, pois a tecnologia está no centro de sua estratégia. Por outro lado, quando olhamos mais de perto, o produto delas não é a tecnologia. Seus produtos são potencializados pela tecnologia digital, da mesma forma que nas empresas tradicionais.
Exemplos de empresas tradicionais nascidas digitais.
Os produtos da Amazon são mercadorias (livros, computadores, telefones celulares etc.). A Amazon é uma loja que vende essas mercadorias. Tanto é que a Amazon tem criado lojas físicas nos últimos anos, mas com bastante tecnologia para facilitar a experiência de compra. É um negócio bastante tradicional, só que muito potencializado pela tecnologia através do e-commerce. O produto da Netflix e do YouTube é conteúdo de vídeo. A gente não assina o Netflix porque o app deles é incrível, ou porque o algoritmo dele faz recomendações boas. Assinamos porque tem séries e filmes que queremos ver. Tanto é assim que uma das áreas mais importantes dentro da Netflix é a área de seleção e criação de conteúdo. Da mesma forma, o produto do Spotify é conteúdo de áudio. O Airbnb é um negócio de classificados de aluguel de curta duração. O Google Adwords também é uma empresa de classificados, só que de qualquer produto ou serviço.
O Nubank, um banco digital brasileiro, oferece serviços de cartão de crédito e conta bancária como qualquer outro banco. Contudo, como o Nubank nasceu digital, já utilizou a tecnologia para potencializar o seu negócio, oferecendo uma boa experiência para os seus clientes diretamente via canais on-line e, assim, não precisou ter uma malha de agências bancárias pelo país para poder atender esses clientes. O serviço principal da Uber e da Lyft é o transporte. Rappi, um serviço de entrega colombiano, iFood no Brasil e GrubHub nos EUA, serviços de entrega de comida, são o que acabei de escrever: serviços de entrega. O Gympass é um benefício corporativo que os departamentos de RH das empresas contratam para oferecer aos seus funcionários acesso a mais de 50 mil academias e estúdios em todo o mundo. QuintoAndar e Loft são duas empresas brasileiras do mercado imobiliário, de compra, venda e aluguel de imóveis, mas que se apoiam na tecnologia para oferecer uma ótima experiência para quem está buscando imóvel para compra ou aluguel, para quem está querendo vender ou alugar seu imóvel e para corretoras e corretores de imóveis.
Nesse tipo de empresa, a gestão de produtos e a área de negócios são, juntas, o core da empresa. Negócios e gestão de produto são igualmente importantes e corresponsáveis pela definição e execução da estratégia e deverão trabalhar como um único time. Por exemplo, nas discussões de estratégia da Netflix certamente se fala sobre em que tipo de conteúdo investir, bem como sobre de que forma a tecnologia pode ajudar a definir em quais conteúdos investir. Esse trabalho conjunto de gestão de produtos e negócios é a razão do sucesso desse tipo de empresa.
As empresas tradicionais, para poderem competir com as tradicionais nascidas digitais, terão que trazer a gestão de produtos digitais para seu dia a dia.
Negócios + gestão de produto = um único time
A gestão de produtos deve ser tão importante quanto as áreas de negócio e deve ser corresponsável pela definição e execução da estratégia da empresa. Idealmente essas duas áreas deverão trabalhar como um único time, focado em combinar estratégias de negócio com as estratégias digitais para potencializar os resultados.
Esse trabalho conjunto de gestão de produtos e negócios é um fator crítico para transformações digitais bem-sucedidas.
Um segundo corolário derivado dessa classificação de empresas é que, com o aumento do conhecimento e entendimento dos potenciais usos das tecnologias digitais, cada vez menos empresas tradicionais serão criadas, pois, se uma empresa que tem algum produto ou serviço que não é digital não considerar o uso das tecnologias digitais para potencializar os seus negócios, suas chances de sucesso serão praticamente nulas. Imagine abrir qualquer novo negócio sem usar tecnologias digitais para se comunicar com seus clientes e para aumentar a eficiência da sua operação. Um banco sem internet banking. Um canal de TV ou rádio sem transmissão via internet. Uma loja sem presença on-line para vender e atender seus clientes. Por esse motivo, a grande maioria das empresas que surgirem daqui para a frente serão ou digitais ou tradicionais nascidas digitais.
Procure entender qual o tipo da sua empresa, se ela é digital, tradicional ou tradicional nascida digital. Ter esse entendimento é fundamental para ter clareza de qual será o papel da tecnologia e, consequentemente, das pessoas que têm essa incumbência de trazer a tecnologia para potencializar o negócio.
Se a sua empresa for tradicional, é muito importante que gestão de produtos seja tão importante quanto as áreas de negócio, e seja corresponsável pela definição e execução da estratégia da empresa. Só assim você poderá competir com as tradicionais nascidas digitais.
Além disso, se você está pensando em começar uma nova empresa, não há como não considerar as tecnologias digitais como parte importante de sua estratégia.
Existem três tipos de empresas, classificadas com base no tipo de produto ou serviço oferecido:
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