Em algumas sessões de mentoria que dou converso com pessoas que estão querendo fazer a transição de carreira para a área de gestão de produtos, mas dizem que têm dificuldade em encontrar alguma oportunidade pois não têm experiência em gestão de produtos.
O que tenho percebido nessas conversas é que, em muitos casos, a pessoa tem experiência em gestão de produtos, mas não de uma maneira formal, com o cargo definido.
Relembrando que gestão de produtos é:
Ajudar a construir soluções de tecnologia (produtos) para resolver os problemas da cliente enquanto geram resultado (receita, cliente, lucro, etc.) para a empresa que é dona dos produtos.
Esse definição não diz que a gente precisa ter o título de gestora de produto. Ela diz o que devemos fazer. Isso significa que, se estamos fazendo isso, estamos exercendo gestão de produtos, mesmo que não chamemos de gestão de produtos. Uma vez entendendo isso, podemos – e devemos – buscar conhecimento sobre gestão e desenvolvimento de produtos de tecnologia que nos mostre os conceitos, princípios e ferramentas para nos ajudar a executá-la cada vez melhor.
O primeiro exemplo vem de uma dessas sessões de mentoria com uma pessoa que estava querendo fazer transição de carreira para gestão de produtos.
Ela disse que estava estudando sobre gestão de produtos e achava a área muito interessante, mas como não tinha experiência em gestão de produtos, estava sendo bem difícil até mesmo ser chamada para uma entrevista para uma posição de gestora de produtos. Na conversa, ela me contou que cuidava de uma loja virtual para uma fabricante de óculos de sol. Para fazer esse trabalho, ela entendia como as pessoas utilizavam o site para fazer compras e pedia para o time de desenvolvimento, que era terceirizado, fazer algumas melhorias no site para que a experiência de compra das pessoas que visitassem o site fosse melhor, ou seja, para que as pessoas conseguissem achar mais facilmente o que estavam buscando. Além disso, ela também implementava melhorias no processo de compra para que, quando uma visitante do site decidisse comprar, esse processo fosse o mais simples possível. A consequência era que após implementar essas melhorias, a venda e a satisfação das clientes aumentava, e essas clientes recomendavam a loja para suas amigas.
Quando ela me contou isso, expliquei para ela que isso era gestão de produtos, uma vez que ela estava usando tecnologia (a loja virtual) para resolver o problema das clientes (compra de óculos de sol) de uma forma que gerasse resultado para a empresa (aumento de vendas e recomendação). Ela estava fazendo gestão de produtos sem perceber!
O outro exemplo vem do início da minha carreira. Quando me formei em Engenharia de Computação no ITA no início da década de 1990, co-fundei uma empresa de tecnologia com outros 3 sócios. A empresa era um BBS (Bulletin Board System), uma espécie de precursor da internet. Imagine uma rede de computadores onde as pessoas se conectavam usando linhas telefônicas e podiam enviar mensagens, baixar arquivos, participar de fóruns e até conversar em salas de chat. Isso tudo em 1992/1993, numa época em que a internet não existia. A internet começou a ser disponibilizada no Brasil no final de 1995.
Eramos 4 sócios mas, inicialmente, só eu trabalhava tempo integral. Eu era o SysOp, ou seja, o operador do sistema. Isso significava que eu cuidava de tudo, desde a configuração técnica e manutenção do sistema até a instalação de hardware e software. Também era responsável por responder às dúvidas dos usuários, resolver problemas técnicos e gerenciar as assinaturas e cobranças.
Uma das minhas principais preocupações era manter o BBS atraente e relevante, buscando constantemente novidades. Novos arquivos tais como imagens, programas, jogos. Integrações com outros BBSs para troca de mensagens entre usuários de diferentes sistemas, tanto no Brasil quanto em outros países.
Olhando agora, vejo que eu estava exercendo o papel de product manager sem saber. Naquela época, meu foco estava em conectar os objetivos da empresa – como aumentar o engajamento dos usuários – com as soluções para os problemas e necessidades dos clientes – a busca por informação, entretenimento e socialização. Eu estava sempre buscando e criando novas “atrações” para manter os usuários engajados e interessados em retornar ao BBS. Isso é exatamente o que um gestor de produto faz: usar a tecnologia para resolver os problemas e necessidades das clientes e, com isso, atingir os objetivos da empresa.
Em 1998, vendemos a empresa, que se chamava Dialdata e tinha se tornado um dos primeiros provedores de acesso e serviços de internet do Brasil, para uma empresa americana chamada VIA NET.WORKS, que estava comprando provedores de serviços de internet em vários países para criar um provedor global e, eventualmente, fazer o IPO. Após a venda, recebi uma proposta para trabalhar na VIA NET.WORKS em uma posição global. Na Dialdata, apesar de exercer esse papel de product manager sem saber, minha função oficial era diretor de tecnologia. A oferta que recebi era para a posição de diretor de produtos reportando ao vice-presidente de marketing. A missão do cargo era criar um portfólio de produtos comum entre as diferentes empresas do grupo. Achei a oferta interessante e aceitei. Essa foi a primeira vez que ocupei um cargo de produtos oficialmente, reportando para o marketing, pois essa função de gestão de produtos naquela época era tradicionalmente alocada no marketing.
Isso ocorria porque o marketing é responsável pelos famosos 4Ps, produto, preço, praça e promoção. Nessa época, final da década de 1990 estava começando a ficar clara a necessidade de uma função dedicada conectando os objetivos de negócio e os problemas e necessidades da cliente por meio de tecnologia. Algumas empresas colocavam essa função no marketing, em função do P de produtos dos 4Ps de marketing, que a eu acabei de comentar, outras em tecnologia, pois naquela época as pessoas que ocupavam essa função eram, na sua maioria, pessoas de tecnologia. No início dos anos 2000 o papel de gestão de produto começou a ficar mais claro e eventualmente se tornou uma área independente.
Quando me juntei à Locaweb em 2005, o convite do Gilberto Mautner, co-fundador da Locaweb e colega de ITA, foi para ser product manager e ajudar na estratégia de diversificação do portfólio de produtos da empresa. Essa estratégia foi criada pelo Gilberto pois, na época, a Locaweb oferecia somente hospedagem de sites e estavam começando a aparecer aqueles hospedeiros gratuitos, com o HPG. Minha missão era ajudar a diversificar o portfólio de produtos, ajudando no desenvolvimento e lançamentos de novos produtos.
Ajudo líderes de produto (CPOs, heads de produtos, CTOs, CEOs, tech founders, heads de transformação digital) a enfrentarem seus desafios e oportunidades de produtos digitais por meio de treinamentos e consultoria em gestão de produtos e transformação digital.
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