Já escrevi vários artigos sobre roadmap:
Desde 2012 temos na Locaweb uma mecânica de revisar o roadmap a cada trimestre. No início de cada trimestre fazemos uma retrospectiva sobre o que foi feito no trimestre anterior, quais itens foram entregues, quais não foram e quais as razões de sucesso ou insucesso.
Esse último artigo sobre motivação + métrica foi escrito em meados de 2014. Ele foi fruto de várias conversas que tivemos na Locaweb sobre ter o roadmap como uma lista de itens a fazer a cada trimestre mas não estar sempre claro a razão de estarmos fazendo cada um daqueles itens planejados. Desde aquela época começamos experimentar fazer nossos roadmaps onde cada item deveria ser composto de 3 sub-itens, o que fazer, por que aquilo tinha que ser feito e qual a métrica que esperávamos mexer ao fazermos aquele item. Contudo, apesar de tentarmos deixar claro a motivação e a métrica de cada item do roadmap, as discusões acabavam girando mais em torno do “o que fazer” do que sobre a motivação e a métrica.
No primeiro semestre de 2015 ouvimos falar de um framework chamado OKR, que significa Objectives and Key Results. Esse framework é usado no Google desde seu início e foi trazido para lá por John Doerr, um funcionário da Intel, empresa onde esse framework foi criado. John Doerr, após sair da Intel, se tornou investidor em negócios de tecnologia tais como Google, Amazon, Intuit e Zynga e acabou levando esse framework para essas empresas. Várias empresas de tecnologia hoje usam OKRs. Mais alguns exemplos são Linkedin, GoPro, Flipboard, Yahoo!, Amazon, Adobe, Baidu, Dropbox, Facebook, Netflix e Spotify.
OKR é um framework derivado de uma ténica de gestão chamada de Administração por Objetivos, termo criado por Peter Drucker em seu livro The Practice of Management, de 1954. A Administração por Objetivos consiste num processo que requer a identificação e descrição precisas de objetivos a atingir e prazos para conclusão e monitorização. Tal processo exige que as pessoas envolvidas concordem com o que se pretende atingir no futuro e que todos desempenharão as suas funções em função dos objetivos.
Como funcionam os OKRs?
Existem vários artigos e vídeos que explicam em detalhes como funcionam os OKRs, por isso farei um explicação sucinta. Os OKRs são compostos de duas partes, um objetivo e de 2 a 5 resultados chave (key results) que indicam que o objetivo foi atingido. Por exemplo:
Objetivo: Ter clientes satisfeitos ao ponto de recomendar nossos serviços aos seus amigos
Key Result 1: Manter 80% das notas de pesquisa de satisfação acima de 8 numa escala de 0 a 10.
Key Result 2: Pelo menos 50% das novas vendas devem vir de recomendações de clientes existentes.
O objetivo não precisa necessariamente ter números. Já os key results devem obrigatoriamente ter algum número, ou seja, devem ser alguma métrica e devem dizer onde se está e onde se quer chegar com a métrica, ou seja, qual é a meta que queremos atingir com aquela métrica.
Recomenda-se ter pelo menos 2 key results pois quando há apenas um key result pode haver o chamado “efeito perverso”. Por exemplo, suponha que o objetivo seja aumentar a produtividade do time de atendimento telefônico e que seja definido um único key result que seria o TMA (tempo médio de atendimento) que hoje está em 8 minutos deve cair para 2 minutos. Uma forma de se atingir esse resultado chave é simplesmente o atendente desligar o telefone quando estiver próximo de dar 2 minutos de ligação. Claro que isso seria péssimo para a qualidade do serviço, mas o key result e o objetivo seriam atingidos. Nesse caso, para balancear o “efeito perverso”, é recomendável ter mais um key result que garanta que a satisfação do cliente que estiver sendo atendido não caia.
Implementando OKRs na Locaweb
Após estudarmos OKR por algum tempo, chegamos à conclusão que ele era muito parecido com o que sempre quisemos fazer, nos focarmos mais nas motivações e métricas do que no “o que fazer” propriamente dito. A grande diferença é que nos OKRs o “o que fazer” simplesmente não entra. Ele pode ser discutido quando se define cada objetivo e seus respectivos resultados chave, mas o “o que fazer” não é documentado e, por isso, não vira um compromisso e pode ser mudado. O que importa é o objetivo e os resultados chave que indicam que o objetivo foi atingido.
Para nos ajudar nessa mudança, chamamos o Felipe Castro, da Lean Performance, consultoria especializada em implementação de OKR. Chamamos ele em junho de 2015 e começamos a implementação no 3º trimestre de 2015, com uma série de treinamentos internos sobre OKR, definicão de objetivos, métricas e metas. Em agosto fizemos uma sessão de planejamento “café-com-leite” para definir OKRs para o mês de setembro. Foi apenas um teste para podermos entender um pouco melhor a mecânica do processo de definição de OKR. No final de setembro fizemos nossa primeira sessão de planejamento de um trimestre completo, onde definimos os OKRs do 4º trimestre de 2015 para os times de desenvolvimento e marketing de produtos da Locaweb. Em paralelo, continuamos com o planejamento trimestral de roadmap de produtos baseado em itens a fazer.
Cada time atualizava seus OKRs semanalmente. Além disso, acompanhávamos a evolução do roadmap mensalmente. Vimos ao longo desses acompanhamentos que os itens do roadmap eram as tarefas que habilitavam o atingimento dos objetivos e dos resultados chave, ou seja, havia um acompanhamento duplo para o mesmo trabalho. Ao longo desse acompanhamento surgiu a ideia: que tal abandonarmos o roadmap tradicional, da lista de tarefas a fazer, e focarmos apenas em definir e acompanhar OKRs?
De tarefeiros a gestores de ponteiros
Foi isso o que fizemos no planejamento de 1º trimestre de 2016. O planejamento foi feito totalmente baseado em objetivos e em métricas que queríamos mexer, ou seja, os ponteiros que queríamos gerir. Deixamos de ser meros tarefeiros, meros executores de tarefas, para nos tornarmos gestores de ponteiros. Dado um objetivo e uma métrica que indica que esse objetivo está sendo atingido, decidimos o que vamos fazer. Na reunião de revisão dos OKRs do 1º trimestre de 2016 e de planejamento dos OKRs do 2º trimestre, ninguém sentiu falta da lista de tarefas a fazer do antigo roadmap. Obviamente que durante a retrospectiva cada time comentou um pouco sobre o que fez para tentar mexer os ponteiros, mas o “o que fazer” passou a ser apenas um meio para se atingir um objetivo, e não mais o objetivo em si. E é claro que em cada sessão de planejamento de OKR os times já têm uma noção de “o que vão fazer” para atingir seus objetivos, mas eles têm autonomia para decidir esse “o que fazer” como quiserem.
Lições aprendidas
Temos aprendido algumas valiosas lições nesse quase um ano em que estamos lidando com OKRs. Essas lições aprendidas são relembradas frequentemente para que possamos constantemente melhorar nossas definiçãoes de OKRs:
Concluindo
Como eu disse acima, em nossas reuniões de retrospectiva e planejamento de OKRs na Locaweb, ninguém sentiu falta da lista de tarefas a fazer do antigo roadmap. Durante a retrospectiva cada time comenta um pouco sobre o que fez para tentar mexer os ponteiros, mas o “o que fazer” passou a ser apenas um meio para se atingir um objetivo, e não mais o objetivo em si. E é claro que em cada sessão de planejamento de OKR os times já têm uma noção de “o que vão fazer” para atingir seus objetivos, mas eles têm autonomia para decidir e mudar o “o que fazer” como quiserem, desde que atinjam seus objetivos.
Por esse motivo, está cada vez mais claro para mim que os OKRs são o futuro dos roadmaps. É uma ferramenta que coloca os objetivos e as métricas no centro da discussão, deixando a decisão do que fazer mais fluída e flexível, dando aos times mais autonomia na decisão sobre o que fazer.