Qual é o papel de um(a) vice-presidente ou head de produto? Ser um head de produto engloba muitos aspectos e habilidades diferentes, e foi por isso que decidi escrever um livro inteiro sobre esse tópico.
Embora eu esteja falando sobre desenvolvimento de produtos digitais, que é baseado em engenharia de software, normalmente considerada uma ciência, acredito que há uma parte da liderança de equipes de desenvolvimento de produtos que é mais arte do que ciência. Perguntando ao Google o que é arte, obtemos algumas respostas interessantes:
“A expressão ou aplicação da habilidade e imaginação criativa humana, tipicamente em forma visual, como pintura ou escultura, produzindo obras a serem apreciadas principalmente por sua beleza ou poder emocional.”
Para desenvolver um produto digital, precisamos de criatividade e imaginação para criar um produto que empodere seus usuários para fazerem algo. O empoderamento é o processo de tornar-se mais confiante e a confiança é uma emoção. E todo produto digital tem interfaces que podem ser admiradas. Portanto, é fácil ver o processo de criação de um produto digital como criação de uma obra de arte.
“Uma habilidade para fazer uma coisa específica, tipicamente adquirida através da prática.”
Construir bons produtos digitais requer prática, muita prática.
Por outro lado, ao perguntar ao Google o que é ciência, também obtemos respostas interessantes:
“A atividade intelectual e prática que abrange o estudo sistemático da estrutura e comportamento do mundo físico e natural através da observação e do experimento”.
Muitas equipes de desenvolvimento de produtos estão compartilhando suas experiências e criando e melhorando o conhecimento sobre como criar produtos digitais.
“Um corpo de conhecimentos sistematicamente organizado sobre um assunto específico”.
Estamos construindo esse conhecimento à medida que experimentamos novos processos e refinamos os existentes. O desenvolvimento de produtos digitais é uma ciência nova e está intimamente ligada à história do software. A primeira vez que um computador armazenou um software em memória e o executou com sucesso foi às 11 horas do dia 21 de junho de 1948, na Universidade de Manchester, no computador Manchester Baby. Foi escrito por Tom Kilburn e calculou o maior divisor inteiro do número 2^18 = 262.144. Começando com um grande divisor de teste, ele executou a divisão de 262.144 por esse grande divisor e depois verificou se o resto era zero. Caso não fosse, subtraía 1 do divisor de teste e repetia o processo até o resto ser zero.
Ou seja, desenvolvimento de software e, consequentemente, gestão de produtos digitais são ciências com menos de 100 anos de vida. Se compararmos com medicina, construção civil, astronomia, matemática e outras ciências, estamos na primeira infância e ainda sabemos muito pouco. Temos investido muita energia na construção desse conhecimento para que as próximas gerações de desenvolvedores de produtos digitais sempre possam dar um passo à frente. É assim que todas as ciências são construídas, um passo de cada vez, cada geração começando a partir dos passos da geração anterior.
O livro está focado na função de head de produto, mas será útil para qualquer pessoa da equipe de desenvolvimento de produtos digitais, bem como para quem não estiver nessa equipe, mas trabalha em uma empresa que possui ou planeja ter uma equipe de desenvolvimento de produtos. O conteúdo desse livro pretende ajudar a entender o que esperar da liderança desse time. O livro será dividido em três seções principais:
Uma novidade neste livro em relação aos meus livros anteriores são as seções “Resumindo” no final de cada capítulo. Elas têm por objetivo ser um guia rápido sobre o conteúdo de cada capítulo para ajudar a revisá-lo rapidamente antes de seguir em frente.
Outro ponto que gostaria de ressaltar é que o conteúdo deste livro é baseado em minha experiência prática em liderar desenvolvimento de produtos digitais. Ao longo de minha carreira venho experimentando diferentes formas de exercer essa liderança e o que estou descrevendo ao longo deste livro são os conceitos, princípios e ferramentas que melhor funcionaram, ou seja, que produziram os melhores resultados tanto para a empresa dona do produto, quanto para os usuários do produto, quanto para os times que trabalharam no desenvolvimento do produto.
Certamente há outras formas de liderar desenvolvimento de produtos digitais que podem ser diferentes e até mesmo discordantes do que estou passando aqui. Contudo, na minha opinião, o fato de duas pessoas discordarem não significa necessariamente que uma delas está errada. Apenas que há formas diferentes de se ver e de se fazer as coisas.
Li um livro intitulado Como avaliar sua vida (How will you measure your life?), do Prof. Clayton Christensen, professor de Harvard e criador do conceito “inovação disruptiva”. Nesse livro, publicado em 2012, ele conta como percebeu que ao longo dos anos seus colegas de turma acabaram se tornando pessoas infelizes, com suas vidas pessoais e profissionais distantes da que haviam planejado na época da faculdade. Alguns tinham seus nomes atrelados a escândalos financeiros e fiscais. Outros se casaram, separaram e brigam judicialmente com os ex-cônjuges. Outros ainda mal conseguem acompanhar o crescimento dos filhos.
Essa constatação o fez refletir sobre como seria possível aumentar as chances de encontrar satisfação e felicidade ao longo da vida. No livro, ele propõe que uma forma de se fazer isso é aplicando algumas das ferramentas do mundo da administração de empresas à gestão da vida pessoal e profissional.
Uma dessas ferramentas é o propósito. O propósito empresarial é o motivo de existir de uma determinada empresa. Muitas publicam esse motivo de forma clara. O Google tem por propósito organizar toda a informação do mundo, e fazê-la universalmente acessível e útil. A Nike quer trazer inspiração e inovação para todos os atletas do mundo, e que se você tem um corpo, você também é um atleta. Na Conta Azul impulsionamos o sucesso do pequeno empreendedor, e no Gympass, combatemos o sedentarismo.
Prof. Christensen propõe que as pessoas também tenham um propósito que deve nortear suas decisões ao longo da vida, da mesma forma que as empresas devem ter um propósito que norteie as suas. Achei essa ideia bem interessante e me provocou a pensar no meu propósito que, após analisar como invisto meu tempo e no que tenho prazer e satisfação em trabalhar, acabei definindo como sendo:
Meu propósito
Ajudar as pessoas a criarem produtos digitais melhores.
Por isso, compartilharei nas próximas páginas o que aprendi ao longo desses quase 30 anos de experiência. Acredito que o que vou compartilhar poderá ajudar na criação de produtos digitais melhores, que atingirão os objetivos do dono do produto, ao mesmo tempo em que atenderão às necessidades dos seus usuários.
Sei que ainda tenho muito a aprender e quero continuar aprendendo sempre. Como o aprendizado vem da troca de experiências e da conversa, convido-o a compartilhar suas experiências lá nos comentários
Vamos começar?
Estou publicando os 30 capítulos do meu mais novo livro, Liderança de produtos digitais: A ciência e a arte da gestão de times de produto, um por semana aqui. Caso você queira ler o livro completo, pode adquiri-lo diretamente da editora. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livro: