Como comentei no capítulo Papéis, responsabilidades e senioridade, o gerenciamento de expectativas é algo que ocupa entre 50 a 80% do tempo de uma head de produto. Seu dia a dia gira em torno de seus relacionamentos e interações com muitas pessoas dentro e fora de sua organização que têm interesse no produto que você lidera. No jargão corporativo, essas pessoas são chamadas de stakeholders:
Nas últimas décadas do século 20, a palavra stakeholder tem sido cada vez mais usada para significar uma pessoa ou organização que tem um interesse legítimo em um projeto ou entidade. Ao discutir o processo de tomada de decisão para instituições – incluindo grandes empresas, agências governamentais e organizações sem fins lucrativos – o conceito foi ampliado para incluir todos com interesse (ou “stake“, palavra em inglês que significa participação) no que a entidade faz.
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Stakeholder_(corporate)
Uma gestora de produtos com alguma experiência sabe da importância de manter bons relacionamentos com os stakeholders do produto. Vou compartilhar aqui duas ferramentas que ajudam a mapear melhor esses stakeholders e como deve ser seu relacionamento com cada um deles.
RASCI é uma ferramenta muito útil para ajudar a definir e entender os papéis e responsabilidades de cada pessoa e cada função. É a abreviação das primeiras letras dos possíveis papéis que uma pessoa, área ou função pode ter em uma tarefa:
A seguir, está um exemplo de uma matriz de responsabilidade RASCI entre engenharia, UX, marketing de produtos e gestão de produtos que usamos na Locaweb:
O primeiro passo é fazer a matriz de responsabilidades. Minha recomendação é preencher essa tabela juntando todas as pessoas envolvidas em uma sala, assim pode-se discutir se a divisão de responsabilidade está boa para todos e se tem alguma tarefa faltando. Muito provavelmente, vão surgir algumas “bolas divididas”, mas esse é um ótimo momento para discuti-las e definir quem é o responsável.
Em seguida, deve-se experimentar fazer as tarefas seguindo a matriz responsabilidade por algum tempo, tipo um ou dois meses. Depois, é importante fazer uma retrospectiva para ver se está tudo certo, ou se é necessário algum ajuste.
Daí para a frente, o uso passa a ser automático e as pessoas não precisarão mais se referir à matriz de responsabilidades. A cada 1 ano ou quando surgir alguma dúvida, ou mesmo quando surgir alguma tarefa nova, é bom revisitá-la.
A matriz de poder-interesse (do inglês Power-Interest Grid) é um conceito desenvolvido pela primeira vez na década de 90 por Aubrey L. Mendelow, e posteriormente explicado no livro, Making Strategy: Mapping Out Strategic Success, de Fran Ackermann e Colin Eden. Com base no poder e no interesse que uma pessoa ou equipe tem em seu produto, você pode classificá-los em 4 categorias principais.
É importante observar que cada empresa tem sua própria dinâmica, portanto, uma área ou pessoa que desempenha uma função específica na matriz de poder-interesse de uma determinada empresa pode ter outra função em uma empresa diferente.
Essas duas ferramentas são muito úteis para o head de produto poder entender melhor como se relacionar com seus stakeholders e como gerenciar suas expectativas, o que, como eu já disse, vai tomar de 50% a 80% de seu tempo.
A empatia é uma ferramenta fundamental para o head de produto poder gerenciar seus stakeholders. Como comentei no capítulo Desenvolvendo o time e gerenciando expectativas, empatia é a capacidade que uma pessoa tem de se colocar no lugar de outra para compreender os suas expectativas. Seus anseios, motivações, necessidades e problemas.
Essa característica é importante para que o head de produto entenda os clientes e usuários do produto, saber como estes se relacionam com ele, e que problema esperam resolver ou que necessidade querem ver atendidas. Também ajuda a entender o impacto de seu produto no seu time e nas pessoas de outras áreas. Por fim, mas não menos importante, o head de produto também precisa se colocar no lugar dos donos do produto, para entender suas expectativas e os resultados que ele trará para a empresa.
No próximo capítulo vamos entender mais sobre como contratar pessoas para o time.
Este artigo faz parte do meu mais novo livro, Liderança de produtos digitais: A ciência e a arte da gestão de times de produto, onde falo sobre conceitos, princípios e ferramentas que podem ser úteis para quem é head de produto, para quem quer ser, para quem é liderado por ou para quem tem uma pessoa nesse papel na empresa. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livros: