Quando pensamos na função de gestão de produtos, sempre a imaginamos sendo exercida em uma empresa cujo negócio principal é um software oferecido via internet, também conhecido por Software as a Service, ou SaaS, como a Locaweb e a Conta Azul ou empresas que têm tecnologia no centro de sua estratégia, como o Gympass, a Netflix e o Nubank.
Contudo, na minha opinião, esse não é o único tipo de empresa que se beneficia em ter um ou mais gestores de produto para ajudar no processo de desenvolvimento de software. Existem outros três tipos de empresa que podem, e devem, se beneficiar com o trabalho de um gestor de produtos.
Ainda existe muito software que não é online, que precisa ser instalado em um computador para ser executado localmente, ou acessar dados de um servidor (cliente servidor). Mesmo com o forte crescimento de aplicações SaaS dos mais variados tipos – como ERP, CRM, BI, Supply Chain Management, entre outros –, ainda existem muitos softwares dessas e de outras categorias que não são online, ou seja, que são executados no computador local, ou em rede no modelo cliente servidor, conhecidos como software on-premises, em oposição ao software online.
Esse tipo de software não vai deixar de existir tão cedo, quer seja por necessidades técnicas ou por questões de política de uso. Não é incomum encontrar empresas que poderiam usar um software online mas que, por política da empresa sobre segurança e privacidade da informação, queiram manter esses dados e o software que o gerencia dentro da empresa.
No futuro, é muito provável que as políticas de uso e os receios das empresas vão abrandar ao ponto de nenhuma empresa mais querer ter software instalado por questões de segurança, da mesma forma que hoje é bastante raro encontrar empresas ou pessoas que gerem sua própria energia elétrica. Contudo, sempre haverá quem opte por ter software instalado por alguma razão específica, apesar do custo que isso possa representar.
Por outro lado, questões técnicas podem inviabilizar a possibilidade de usar um software online. Basta imaginar situações em que não é possível estar online como, por exemplo, em um avião ou um barco sem conectividade. Aqui também é possível imaginar um futuro onde a conectividade será boa e universal, mas mesmo assim pode haver situações em que rodar o software localmente faça mais sentido.
Mesmo que exista esse movimento em direção ao software online, ainda existirá software on-premises por muito tempo. Este, da mesma forma que o software online, é um software que tem de atender as necessidades de seu dono, ao mesmo tempo em que atende as necessidades dos seus usuários.
Por esse motivo, empresas que desenvolvem software não online devem também ter gestores de produtos de software em sua equipe de desenvolvimento.
Muitas empresas não têm software como seu negócio principal. Contudo, a maioria é usuária de software. Tem computadores e sistemas internos para auxiliar nos mais variados processos da empresa. À medida que a familiaridade e utilidade dos computadores e sistemas se comprovam, é comum ver essas empresas começando a pensar em ter um ou mais softwares para ajudar na interação com seus clientes e melhorar seus negócios.
Por exemplo, o Fleury, um laboratório de exames clínicos e de imagem em São Paulo, tem um sistema de resultados online, o Ipiranga tem um programa de fidelidade, o Magazine Luiza tem forte presença online com e-commerce, e o Colégio Santo Américo, assim como vários colégios, tem sistema de educação a distância para passar lição de casa para os alunos e se comunicar com os pais.
Mesmo esses softwares não sendo seu core business, eles fazem parte da estratégia dessas empresas. Por esse motivo, eles devem ser gerenciados por alguém que tenha conhecimento de gestão de produtos de software, para garantir que eles atendam tanto os objetivos do seu dono quanto dos seus usuários.
As melhores empresas que desenvolvem software sob demanda estão sempre na fronteira no que se refere a desenvolvimento de software. Usam novas tecnologias, novas linguagens de programação, bancos de dados e arquiteturas; e propõem novas formas de se fazer software, as metodologias ágeis, Scrum, Kanban, Lean.
Aliás, o termo Product Owner vem das metodologias ágeis, e é definido com a pessoa responsável por construir o backlog, priorizando o trabalho a ser feito de acordo com as demandas do cliente. As empresas que desenvolvem software sob demanda sabem da importância de se ter um gestor de produtos no time que desenvolve software. Tanto que usam essa função tanto nos seus produtos quanto nos softwares que fazem sob demanda. Contudo, normalmente as empresas que fazem software sob demanda assumem que seu cliente sabe gerenciar um software, e apenas atendem suas demandas e requisitos. Elas fazem reuniões com seus clientes perguntando o que eles querem e esperam do software, coletam os requisitos, priorizam-nos de comum acordo com o cliente, e começam a desenvolver o software. Uma boa empresa que desenvolve software sob demanda vai procurar fazer entregas frequentes para que ele possa não só ver o progresso, como validar o que está sendo entregue.
O problema é que o seu cliente não sabe gerenciar um software! Se esse for o primeiro software dele, será ainda pior! Ele sabe gerenciar o seu próprio negócio, e pode até saber contratar software pronto; entretanto, ele não terá a mínima ideia do que é ser dono de um software, e de que o software é algo bastante flexível, devendo se adaptar para atender os objetivos da empresa e dos seus usuários. Isso tudo é novidade para ele.
Por este motivo, as empresas que desenvolvem software sob demanda têm a obrigação de, na proposta de desenvolvimento de software que fazem para seus potenciais clientes, incluir algum tipo de treinamento ou aconselhamento para preparar seu cliente para gerenciá-lo. Só assim essas empresas poderão aumentar as chances de o software que está sendo desenvolvido sob demanda atender os objetivos do seu cliente e dos usuários do seu cliente.
Em minha opinião, toda empresa que é dona de um software, ou que desenvolve software para si ou para outras empresas, deve ter uma ou mais gestoras de produtos de software em seu time. Isso aumentará bastante as chances de este ter sucesso, ou seja, atender os objetivos tanto do dono do software quanto dos seus usuários.
Também na minha opinião, as empresas que desenvolvem software sob demanda têm ainda mais uma obrigação nesse ciclo de desenvolvimento de software: ensinar seus clientes sobre gestão de produtos de software, da importância dessa função no seu sucesso, e o que é necessário para fazer uma boa gestão de produtos de software.
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