Muitas vezes, como times de produto, passamos mensagens contraditórias sem nem perceber. Nós pedimos para as outras áreas nos trazerem problemas ao invés de soluções. “Não nos digam o que fazer, nos digam o que está errado” é uma frase que qualquer product manager já falou ou pelo menos pensou.
Mas o que acontece quando realmente nos trazem problemas? Com muita frequência, respondemos com: “precisamos fazer um discovery”. E, em vez de focarmos em entender como podemos resolver aquele problema, começamos um discovery do próprio problema. Isso é um contrassenso.
O resultado disso? Frustração. De todos os lados.
As stakeholders ficam impacientes. “Mas eu já sei qual é o problema! Por que vocês precisam de meses para descobrir algo que já está claro?” É uma pergunta comum e, sejamos honestos, justa. Afinal, nós pedimos para elas confiarem em nossa forma de trabalhar. Pedimos que nos tragam problemas e, quando fazem isso, parecemos questionar a validade do que foi trazido.
Esse comportamento não é apenas ineficiente; ele mina a confiança que queremos construir com as outras áreas.
Quando uma stakeholder nos traz um problema, precisamos mostrar confiança. Se pedimos que nos tragam problemas, precisamos honrar essa promessa aceitando o ponto de partida e focando em fazer o discovery da solução.
Isso não significa ignorar a possibilidade de que o problema possa estar mal definido. Significa, sim, que o ponto inicial é a confiança no que foi trazido. Se, durante o discovery da solução, surgirem dúvidas sobre a definição do problema, voltamos à origem: conversamos novamente com a stakeholder. Se ela não souber esclarecer, falamos com a cliente diretamente.
Digamos que o time de Suporte ao Cliente traga o seguinte problema: “Estamos recebendo muitas reclamações de clientes que não conseguem finalizar o cadastro na plataforma.”
O que muitos times de produto fariam nesse ponto é iniciar um discovery para validar se o processo de cadastro realmente é o problema. Isso pode envolver entrevistas, análise de dados e outras atividades que podem levar semanas, senão meses.
Em vez disso, deveríamos assumir que o problema é real e começar a explorar soluções: como podemos simplificar o onboarding? Quais são as principais dores nesse processo? Que melhorias podemos testar rapidamente?
Se durante esse processo percebemos que há dúvidas sobre a natureza do problema, paramos, voltamos para o time de suporte e perguntamos: “Vocês conseguem nos explicar melhor essa parte? Se não, vamos falar com alguns clientes para entender isso a fundo.”
Aqui estão mais alguns exemplos de problemas que stakeholders podem trazer:
Esses exemplos ajudam a ilustrar que, quando as áreas trazem problemas claros, nós precisamos confiar na validade do problema e focar em buscar soluções eficientes.
Discovery é uma parte fundamental do desenvolvimento de produto. Mas precisamos ser mais criteriosos sobre onde e quando focar no discovery do problema ou quando trabalhar diretamente em hipóteses de solução. Fazer discovery do problema quando ele já foi claramente trazido pelas stakeholders é desperdiçar tempo e minar a confiança.
Ao mostrar que sabemos lidar com problemas trazidos pelas outras áreas e focar em fazer um discovery de solução, construímos uma relação de parceria verdadeira. Nós pedimos problemas, então é hora de mostrar que sabemos resolvê-los.
Confiança não se constrói apenas pedindo; ela se constrói entregando resultados.
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