Depois de uma série de novos artigos, vou retomar a publicação dos capítulos do meu último livro sobre “Transformação Digital e Cultura de Produto“, e o capítulo da vez é sobre estrutura de time, um assunto crítico para o sucesso de qualquer produto.
O time de desenvolvimento de produto é quem vai executar a estratégia e atingir os objetivos para alcançar a visão de produto. Por isso, uma parte essencial da definição de estratégia é desenhar e implementar sua estrutura de time. Para isso, é importante entender as diferentes formas de se organizar um time de desenvolvimento de produtos e definir qual a mais apropriada para a sua estratégia.
Relembrando o que vimos no capítulo A tal da transformação digital:
GESTÃO DE PRODUTOS DIGITAIS
É a função responsável por fazer a conexão entre a estratégia da empresa e os problemas e necessidades dos clientes por meio de tecnologias digitais. Esta função deve, ao mesmo tempo, ajudar a empresa a atingir seus objetivos estratégicos, enquanto soluciona os problemas e atende às necessidades dos clientes.
Esta imagem nos dá uma boa indicação de qual é a estrutura básica de um time de desenvolvimento de produto:
Precisamos de pessoas de engenharia, de design de produto e de gestão de produto. O time mínimo é um time formado por duas pessoas engenheiras, uma product designer e uma de gestão de produtos. O time ultramínimo é um time com somente duas pessoas, uma de engenharia e outra com o perfil mais de negócio e design. Esse time ultramínimo pode funcionar no começo, mas se o produto for bem aceito, esse time rapidamente terá que crescer.
Ao longo da minha carreira, tanto nas empresas em que liderei o time de desenvolvimento de produtos quanto em minhas interações como consultor, encontrei, com raras exceções, sempre algum número entre 5 a 9 pessoas de engenharia para cada PM. Quando se trata de designers, o mais comum é ter uma proporção de 1:1 com PMs para equipes de produtos focadas no usuário. Por isso, a minha recomendação geral é de 5 a 9 pessoas de engenharia por PM e 1 UX por PM. Aqui, quando contabilizamos as pessoas de engenharia, devemos também considerar as pessoas dos times estruturais que veremos mais à frente.
Veja alguns números e as proporções dos times de desenvolvimento de produto de algumas empresas onde trabalhei:
Na Lopes, estivemos no limite inferior das proporções recomendadas, enquanto no Gympass as proporções estavam mais dentro do recomendado. Já na Conta Azul, a proporção de pessoas de engenharia para pessoas de produto estava dentro do recomendado, enquanto UX/PM estava 50% maior do que o recomendado. Isso se deve ao grande foco que tínhamos na Conta Azul em oferecer uma boa experiência de uso. Aliás, esse era um dos valores corporativos da empresa, a entrega de uma “experiência UAU”.
Já na Locaweb, vemos a proporção de engenharia e produto sendo maior do que o dobro do limite superior recomendado. Isso se deve pelo fato de os produtos da Locaweb serem bem técnicos (Hospedagem de Sites, Email, Cloud Server, SMTP, Email Marketing, Loja Virtual etc.). Por outro lado, essa quantidade grande de pessoas engenheiras em relação a pessoas de produto fez com que a proporção de pessoas de UX para pessoas de produto fosse 50% acima do recomendado, para que as pessoas de UX pudessem ajudar as pessoas de produto em relação a temas de descobrir e definir o que fazer para atingir os resultados.
Quando entrei no Gympass em 2018, a empresa já tinha 800 pessoas, mas a equipe de desenvolvimento de produto, composta de gerentes de produto, designers, engenheiros e pessoas de dados, era de apenas 30 pessoas, menos de 4% da empresa, o que parece bastante baixo.
Logo depois que entrei na empresa, tive que apresentar ao conselho meu plano de aumentar essa equipe e decidi incluir um slide com um benchmark de algumas empresas de tecnologia conhecidas.
Usei o LinkedIn para obter algumas estimativas do tamanho da equipe de desenvolvimento de produtos dessas empresas em comparação com o número total de funcionários. A maioria tem entre 24% a 40% de sua força de trabalho na equipe de desenvolvimento de produtos. A exceção é a Apple, com 20%, mas precisamos considerar que eles são donos de todas as suas lojas físicas, então todos os vendedores dessas lojas também são seus funcionários. Conta Azul, Locaweb e Lopes são de minhas experiências passadas. A Lopes, uma imobiliária tradicional que trabalha em sua transformação digital, tinha cerca de 11% de sua força de trabalho em desenvolvimento de produtos. No Gympass, conseguimos aumentar de 4% em meados de 2018 para 18% no final de 2019.
No entanto, não podemos definir o tamanho ideal da equipe apenas pelo benchmarking. Precisamos considerar outros fatores, de dentro da empresa: o que fazer e onde investir.
A partir do objetivo da empresa e do entendimento dos problemas do usuário, criamos nossa visão e estratégia de produto. Ter isso claro nos ajuda a definir o que precisamos fazer para executar essa estratégia, quais resultados e objetivos queremos atingir, e a equipe necessária para executar essa estratégia.
Por exemplo, no Gympass, fazíamos produtos para academias, RHs de clientes e seus funcionários, então decidimos ter equipes dedicadas a cada um desses participantes de nosso marketplace. Além disso, precisávamos de ferramentas para gerenciar os pagamentos recebidos dos RHs e funcionários e os que tínhamos que fazer para as academias, então também tínhamos uma equipe focada nisso. Eram o que chamávamos de equipes de produto, que geravam resultados para o Gympass, como mais usuários e menos trabalho operacional manual.
Além das equipes de produto, tínhamos também equipes estruturais para cuidar de temas como SRE (Site Reliability Engineering, ou Engenharia de Confiabilidade de Site), ferramentas comuns a todos os times de produto, dados e segurança, conforme explicarei logo adiante.
Esses times de produto e estruturais tinham suas próprias visões e estratégias alinhadas com a visão e estratégia global, e com base nisso propuseram suas próprias estruturas de time. Por exemplo, no Gympass, a equipe focada nos funcionários de nossos clientes decidiu se dividir em duas equipes: uma focada em crescimento, ajudando os funcionários a saberem que a empresa oferece o Gympass, fazendo com que os funcionários baixem o aplicativo, criem uma conta e se inscrevam no serviço; a outra focada na experiência digital, que significa ajudar o funcionário a tirar o máximo proveito do Gympass, encontrando e usando academias, atividades e aplicativos de bem-estar adequados. O que fazer é um dos direcionadores para definir a estrutura e o tamanho do time.
Por outro lado, precisamos saber quanto estamos planejando investir nessa equipe. Montar uma equipe de desenvolvimento de produtos custa dinheiro. Suponha que, com base no que definimos que queremos fazer, criamos uma estrutura de time de desenvolvimento de produto que requer 15 pessoas. Vamos considerar R$ 6.000 como o salário médio mensal das pessoas de sua equipe. Considerando todos os encargos, 13o salário e férias, isso custaria para a empresa R$ 9.600 por mês. Então o custo mensal total dessa equipe é de R$ 144.000 ou R$ 1.728.000 por ano. É muito dinheiro.
Essa equipe tem por objetivo trazer resultados para a empresa, mas às vezes os resultados podem demorar para ser gerados. Em todos os novos produtos que construímos e lançamos, enquanto não os lançamos e começamos a receber alguma receita, essa equipe só vai gerar custos. Temos dinheiro para investir todo mês para pagar os salários e encargos trabalhistas dessa equipe, enquanto ela não gerar os resultados? Note que aqui estou considerando somente salário, sem bônus e stock options.
Por isso, precisamos saber quanto podemos investir e o que precisamos fazer para podermos definir o tamanho ideal da nossa equipe de desenvolvimento de produtos.
No próximo artigo, veremos como organizar times de produtos. Fique ligado!
Esse artigo é mais um trecho do meu mais novo livro “Transformação digital e cultura de produto: Como colocar a tecnologia no centro da estratégia da sua empresa“, que vou também disponibilizar aqui no blog. Até o momento, já publiquei aqui:
Ajudo líderes de produto (CPOs, heads de produtos, CTOs, CEOs, tech founders, heads de transformação digital) a enfrentarem seus desafios e oportunidades de produtos digitais por meio de treinamentos e consultoria em gestão de produtos e transformação digital.
Você trabalha com produtos digitais? Quer saber mais sobre como gerenciar um produto digital para aumentar suas chances de sucesso, resolver os problemas do usuário e atingir os objetivos da empresa? Confira meu pacote de gerenciamento de produto digital com meus 4 livros, onde compartilho o que aprendi durante meus mais de 30 anos de experiência na criação e gerenciamento de produtos digitais. Se preferir, pode comprar os livros individualmente: