Um gestor de produtos tem a difícil tarefa de liderar a evolução do produto sem ser “chefe” de ninguém, ou seja, ele deve convencer a todas as pessoas que trabalham com seu produto de que o caminho que ele definiu para o produto é o mais adequado.
Em vários textos sobre gestão de produtos encontramos que o gestor de produtos é o CEO do produto. Não gosto muito dessa analogia pois um CEO, em última instância, tem ao seu dispor a liderança direta de todas as pessoas da empresa.
Por outro lado, um gestor de produto trabalha em uma relação matricial, ou seja, não tem liderança direta de nenhuma das pessoas envolvidas com o produto. Aliás, esse é um excelente exercício de liderança e uma qualidade extremamente importante para um gestor de produtos: liderar sem ter a “chefia” organizacional.
Mesmo que ele trabalhe em uma organização totalmente horizontal, sem nenhuma hierarquia, ele deverá exercer alguma liderança para convencer as pessoas a evoluir o produto na direção que visualizou.
Por isso, aqui vão duas dicas de liderança que um gestor de produtos, ou qualquer líder, deve lembrar para liderar de forma eficiente.
A primeira dica é de caráter estratégico. O gestor de produtos tem a obrigação de:
Essa dica parece simples e óbvia, mas é comum encontrar pessoas que trabalham sem saber exatamente por que estão fazendo seu trabalho. Ajudar as pessoas a verem o impacto do seu trabalho faz com que elas entendam por que ele é necessário.
Experimente levar engenheiros de software em sua próxima conversa com cliente. Melhor ainda, leve-os a um teste de usabilidade, para que eles possam ver seus usuários utilizando o software que eles desenvolveram. Isso os ajudará a entender por que o software que eles desenvolveram existe, qual problema ele resolve e para quem ele resolve esse problema.
Estabelecer o contexto ajuda muito no engajamento das pessoas que estão envolvidas com o produto. Elas vão entender a sua importância tanto para a empresa – que é dona do produto – quanto para os seus usuários. Esse engajamento é importante não só no core team do produto como também com todas as pessoas envolvidas com ele, como o pessoal de vendas, marketing, jurídico e suporte ao cliente. Todos vão se beneficiar se o gestor de produtos sempre procurar estabelecer seu contexto e mostrar onde o trabalho de cada área se insere no sucesso do produto.
Na Locaweb, temos alguns sistemas antigos que, como todo legado, são bem difíceis de mexer: pouca cobertura de testes, linguagens de programação antigas, código feito com práticas de 10 anos atrás. Sempre que é preciso mexer no código legado é um sofrimento.
Estamos já trabalhando há alguns anos para minimizar a quantidade de código legado, e essa quantidade tem de fato diminuído. Contudo, o negócio não para e, Ã s vezes, a única saída é mexer nele. Sempre que aparece uma demanda dessas, os desenvolvedores perguntam se não dá para esperar o novo sistema que o substituirá.
No início de 2015, apareceu uma demanda desse tipo, em que era necessário mexer nos limites e preços de nossos planos de hospedagem para acompanhar as mudanças do mercado, que estava mais competitivo. Claro que, inicialmente, houve resistência dos desenvolvedores em mexer no legado, mas quando mostramos todo o racional por trás das mudanças, eles arregaçaram as mangas e “sujaram” as mãos no código antigo.
Assim que as mudanças foram implementadas, frequentemente contávamos para as pessoas que trabalharam nesse projeto sobre os seus resultados positivos. Essa compreensão de por que algo é pedido e deve ser feito é fundamental tanto para a motivação de quem for trabalhar na demanda quanto para a qualidade do que será entregue.
Quero propor um experimento mental. Vamos usar a empatia, a principal característica de um gestor de produto digital, para nos colocar na posição de um desenvolvedor de software que recebeu a seguinte história do gestor de produto de sua equipe:
Quando atingir 39, um alarme deve disparar.
Embora pareça ter informações suficientes, quando você começar a implementá-las, verá que essas informações estão incompletas. O que são 39? O alarme dispara quando chega a 39 vindo de 38 ou vindo de 40? Ou nos dois sentidos?
Vamos agora ver a mesma história com o contexto apropriado:
Estamos desenvolvendo um sistema que monitora a temperatura corporal e esse sistema deve soar um alarme quando a temperatura subir acima de 39ºC.
Com o contexto, fica muito mais fácil entender qual é o número 39 e por que você foi solicitado a tocar o alarme. E é mais fácil codificar o software certo.
Portanto, em sua próxima sessão de planejamento com a equipe, reserve um tempo adequado para explicar o contexto das histórias. Isso aumentará as chances de sucesso do seu software!
Remover impedimentos
Remover os impedimentos é fundamental para que as pessoas do time possam desenvolver o produto. Isso é importante para poder ter aquela gostosa sensação de progresso, de que estamos fazendo algo, construindo algo. Recentemente li o artigo “What Really Motivates Workers” (O que motiva os trabalhadores) na Harvard Business Review que mostra uma informação importante. Fizeram um estudo para encontrar o que acontece em um excelente dia de trabalho. A resposta, em uma palavra: progresso.
O conselho no final do artigo resume bem a segunda dica:
Você pode criar proativamente a percepção e a realidade do progresso. Se você é um gestor de alto escalão, tome muito cuidado para esclarecer as metas gerais, garanta que os esforços das pessoas sejam adequadamente apoiados e evite exercer uma pressão de tempo tão intensa que pequenas falhas sejam percebidas como crises e não como oportunidades de aprendizado. Cultive uma cultura de utilidade. Enquanto você está nisso, pode facilitar o progresso de uma maneira mais direta: arregace as mangas e entre em campo. É claro que todos esses esforços não apenas manterão as pessoas trabalhando com gosto, mas também farão o trabalho mais rápido.
Evitar escrupulosamente o que estiver impedindo o progresso, evitar alterar objetivos autocraticamente, evitar indecisões, ou segurar recursos. Eventos negativos geralmente têm um efeito maior sobre as emoções, percepções e motivações das pessoas do que os positivos, e nada é mais desmotivador do que um revés – o tipo mais proeminente de evento nos piores dias dos trabalhadores do conhecimento.
Portanto, aqui estão alguns exemplos de impedimentos que um gestor de produto pode remover:
Concluindo
Bom, então estão aí duas dicas de liderança para gestores de produtos e para qualquer pessoa que se veja liderando algum projeto:
Tenho usado-as ao longo de toda minha vida profissional e elas têm orientado meu sucesso como gestor de produtos.
Este artigo faz parte do meu livro “Gestão de produtos: Como aumentar as chances de sucesso do seu software”, onde falo sobre o que é gestão de produtos digitais, seu ciclo de vida, que ferramentas utilizar para aumentar suas chances de sucesso. Você também pode se interessar pelos meus outros dois livros: