Existe uma quantidade enorme de empresas de software que fizeram seu software antes de existir a internet. Nessa época, software era vendido em caixas que continham disquetes ou CDs de instalação e o manual do software. O que essas empresas vendem é a licença de uso desse software e, muitas vezes, um valor anual de suporte que dá direito a atualizações de versão durante aquele ano.
Esse software roda nos computadores do cliente, ou seja, todo custo de operação desse software é de responsabilidade do cliente. A empresa que fez esse software recomenda uma configuração mínima de equipamento para rodar esse software e o cliente se preocupa em ter, configurar e manter esse equipamento. Além disso, administrar esse software tb é responsabilidade do cliente. Garantir que o software esteja rodando em equipamento com espaço em disco suficiente, com memória suficiente, que os dados gerados estejam seguros, tudo isso é responsabilidade do cliente.
Com a internet, essas empresas passaram a distribuir seu software via download, com manual disponível online. Contudo, essa não é melhor forma de usar a internet para distribuição de software. A internet trouxe a possibilidade de oferecer softwares para serem usados de forma remota, ou seja, passou a ser possível usar um software que não está mais rodando no equipamento do cliente e que não precisa ser administrado pelo cliente.
Novo modelo de comercialização de software
Nesse novo modelo de comercialização de software, há um aumento de custo pois a empresa passa a ter não somente o custo de desenvolver o software como também o custo de operar esse software. Contudo, há uma diminuição dos custos de distribuição e suporte. No custo de distribuição, a empresa não precisa mais distribuir CDs ou mesmo usar a internet como meio de distribuição, pois o software já estará instalado. E não haverá também o custo de suporte à instalação do software, um tipo de suporte bem trabalhoso, pois é preciso conhecer o ambiente do cliente onde o software é instalado e cada cliente costuma ter suas particularidades. Alguns softwares são tão complicados para serem instalados que algumas empresas acabaram se especializando no serviço de instalação e configuração de software no cliente. Exemplo bastante comum são os software de ERP, como o SAP, que tem uma quantidade enorme de empresas parceiras, chamadas de integradoras, que instalam e configuram o ERP nos servidores do cliente.
Por outro lado, olhando do ponto de vista de receita, quando o software é usado de forma remota, não há somente a venda do software, mas também a venda do serviço de operar esse software. Com isso é possível criar um fluxo de receita mais contínuo, conhecido como receita recorrente.
A internet abre um monte de oportunidades para quem desenvolveu software não web, pois já tem clientes, já sabe que problema esses clientes precisam resolver e já resolveu esse problema com um software não web. Agora é preciso pensar em como resolver esse problema com um software web.
Como fazer a transição de software não web para software web?
Um erro bastante comum de quem tem um software não web e toma a decisão de criar um software web é querer criar na web um software com a mesma cara e as mesmas funcionalidades de seu software não web. São duas as razões para não seguir por esse caminho:
- web é diferente: um produto web é diferente de um software feito para ser instalado em um computador. Primeiro tem a questão da velocidade de conexão do seu usuário com a internet mais a velocidade de conexão de seu servidor com a internet. Isso pode afetar a performance de seu software. Vc precisa tomar cuidado para não sobrecarregar o trânsito de dados entre o servidor onde está o seu software e o computador de seu usuário. Ninguém consegue usar um software lento. Segundo, a interface de um software feito para web é bem diferente de software feito para rodar localmente. E quando vamos para aparelhos móveis como iPhone, Android e iPads essa diferença fica maior ainda. Por exemplo, o Gmail tem uma interface completamente diferente da interface do Outlook, software não web para leitura de email da Microsoft. E a interface para acesso via iPhone, Android e iPad do Gmail é ainda mais diferente de um Outlook. A própria Microsoft tentou fazer uma versão web para acesso a email, o OWA (Outlook Web Acess), mas dá a impressão de ser uma tentiva de portar a interface do Outlook para a web e não apresenta uma experiência de usuário tão boa quanto o Gmail.
- repetir a história custa muito tempo: refazer todas as funcionalidades de seu software não web dentro de seu produto web vai levar muito tempo e custar muito dinheiro. Normalmente quem tem um software não web, o desenvolveu durante anos e foi aprimorando suas funcionalidades ao longo do lançamento de novas versões. Repetir tudo isso num produto web, mesmo que vc consiga portar todas as funcionalidades para a web, é algo muito trabalhoso. Veja quanto tempo a Microsoft levou para conseguir levar o Office para web, com o Office 365 que foi lançado em junho de 2011. Provavelmente essa demora foi em função da dificuldade em portar todas as inúmeras funcionalidades que o Office, que existe desde 1990, já tinha. Enquanto isso, o Google lançou o Google Docs em meados de 2006. Além do Google, outras empresas investiram em desenvolver e oferecer pacotes tipo office para uso online, sendo um dos mais conhecidos o Zoho Office Suite que foi lançado em 2007.
Então, qual o caminho mais indicado? Aqui vão algumas sugestões:
- novo produto: vc conhece seus clientes, sabe que problemas eles têm. Seu software não web endereça um ou alguns desses problemas. Então que tal criar um software web resolva algum outro problema desses clientes que não esteja ainda sendo resolvido? A Microsoft começou a experimentar com serviços online desde 1995, quando eles lançaram a MSN (Microsoft Network) que, inicialmente era um serviço de acesso discado com conteúdo exclusivo, o MSN.com, site de conteúdo que competia diretamente com Yahoo!. Esse site de conteúdo acabou sendo aberto e hoje é uma fonte de receita de anúncios para a Microsoft. Outro exemplo da própria Microsoft é o Expedia, site de intermediação de serviços de viagem, que foi criado como uma divisão da Microsoft em 1996 e acabou sendo vendido para a TicketMaster em 2001.
- nova funcionalidade ou módulo: vc deve receber constantemente feedback de seus clientes sobre novas funcionalidades para implementar em seu software não web, não é mesmo? Que tal então pensar numa forma de implementar essas novas funcionalidades como um produto web? Claro que isso depende muito de que funcionalidades são essas e quão independentes elas seriam da operação do seu software não web. Mais uma vez um exemplo da Microsoft, que adicionou ao seu pacote Office algumas funcionalidades ao longo dos anos que eram baseadas em produto web. Uma delas é a possibilidade de fazer reuniões online, o Microsoft Office Live Meeting que é oferecido desde 2003 e permite fazer reuniões online compartilhando documentos Office. Em 2007 a Microsoft lançou o Windows Live Folders, que depois ficou conhecido como Windows Live SkyDrive, para compartilhamento e edição colaborativa de arquivos Office.
- versão “light” ou “web”: crie uma versão web, com menos funcionalidades, mas que já resolva o problema de alguns de seus clientes existentes. Ou então, veja se vc não está deixando de atender pessoas interessadas em sua solução, mas que acham sua solução muito sofisticada. Vc pode fazer uma versão mais simples para esse público e, eventualmente, começar a atender um novo segmento de clientes. Vc pode até lançar essa versão web com um preço menor do que sua versão mais barata não web, e com isso trazer mais clientes. Por exemplo, se seu software não web tem a versão mais barata custando R$ 1.000,00 mais de 15% a 20% disso, ou seja, R$ 150,00 a R$ 200,00 por ano de taxa de manutenção, vc poderia ter a sua versão web custando R$ 50,00 por mês. Fazendo as contas de um cliente que fica com vc por dois anos, ou seja, lifetime de 24 meses, no software não web sua receita total será de R$ 1300,00 a R$ 1400,00. Na versão web, sua receita total será de R$ 1200,00. Se vc cobrar R$ 60,00 por mês, sua receita total sobe para R$ 1440,00. Se esse cliente ficar 3 anos, na versão não web ele paga para vc ao longo desses 3 anos de R$ 1.450,00 a R$ 1.600,00. Na sua versão web, a R$ 50,00 por mês, em 3 anos vc teria R$ 1.800,00. A R$ 60,00 por mês seriam R$ 2.160.
Então não perca tempo! Já vimos como é importante desenvolver rápido seu produto web. Agora é hora de por a mão na massa para que vc, que tem um software não web, tire proveito da web para criar seu próximo produto!
Próximo post
No próximo post vamos falar sobre empresas estabelecidas que desenvolvem sites e aplicações web sob encomenda e como elas podem usar o que temos conversado aqui no Guia da Startup para o seu dia-a-dia.
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