Trabalhei na Locaweb por mais de 11 anos. Quando eu entrei lá, eram pouco mais de 100 funcionários, ou seja, era ainda uma startup. Após esses 11 a empresa cresceu muito e hoje tem mais de 1000 funcionários. Nesse tempo que passei lá conheci várias pessoas e, dentre elas, vários fundadores de startups. Um deles foi o Vinicius Roveda, que conheci em 2012, quando a ContaAzul ainda estava dando os seus primeiros passos. A ideia era Locaweb e ContaAzul terem algum tipo de parceria para oferecer a solução de ERP da ContaAzul para os clientes da Locaweb. Na época a parceria não vingou mas Vini e eu conversamos algumas vezes sobre gestão e desenvolvimento de produtos de software e desde essa época já havia afinidade sobre esses temas.
Ao longo de 2016 voltamos a conversar e começamos a explorar a possibilidade de eu me juntar ao time da ContaAzul. A empresa agora tem 5 anos e está escalando a uma velocidade incrível. Por esse motivo o Vini estava buscando pessoas que tivessem já passado por isso em outras empresas e pudessem ajudar o time da ContaAzul a escalar de forma sustentável mantendo a alta velocidade de crescimento. Resolvi aceitar a proposta e voltar a viver novamente esse clima de startup.
Claro que eu aproveitei a oportunidade para fazer mais um entrevista para o Guia da Startup!
Guia da Startup: Você poderia nos contar como surgiu a ideia da ContaAzul?
Vinicius Roveda: A ContaAzul surgiu com o objetivo de proporcionar uma nova experiência para micro e pequenos empreendedores em termos de sistemas de gestão. Sabemos que a principal causa a mortalidade das micro e pequenas empresas é a falta de planejamento e gestão. Por isso criamos algo que permite o pequeno empreendedor, com o mínimo de esforço, ter um alto nível de controle do seu negócio e, por consequência, obter melhores resultados. Nossa ideia era baseada em fazer um sistema online de gestão que pudesse ser acessado de qualquer lugar, sem a necessidade de treinamentos e implantação.
Outra preocupação que tínhamos era a capacidade de investimento do pequeno empreendedor e pensando nisso, criamos uma solução altamente escalável que nos permite oferecer um preço super acessível sem a necessidade de investimentos em infra estrutura própria, basta um computador com acesso a internet para começar a usar.
GS: Como você validou que sua ideia poderia virar uma empresa?
VR: Visualizamos a oportunidade de fazer um sistema de gestão online focado para MPEs em 2007. Desde então, estudamos muito esse mercado. O começo foi muito difícil. Criamos uma primeira versão do produto em 2008, mas acabamos não saindo dos beta users. Foi muito difícil encontrar o modelo de negócio ideal para escalar. Eu acabei gastando todas as minhas economias e diante dessas dificuldades nós acabamos abrindo outra empresa de desenvolvimento de software sob demanda junto com alguns amigos. Em paralelo a essa empresa, continuávamos com a ideia de fazer um negócio baseado em produto de software e com alta escala. Foi aí que relançamos o projeto com o nome ÃgilERP, isso foi entre 2010 e 2011. Nessa fase, fizemos uma tentativa de utilizar revendedores, mas esse modelo voltou a fracassar, pois os revendedores preferiam vender softwares mais caros e não o nosso que era barato e baseado em mensalidade. Em 2011, tivemos a oportunidade de conhecer a 500 Startups. Fomos a primeira empresa brasileira a ser escolhida para o processo de aceleração. Tivemos a oportunidade de viver quatro meses na Califórnia, período em que aprendemos muito sobre como acertar o modelo de negócio que utilizamos hoje.
GS: Você teve sócios desde o início? Como você encontrou seus sócios?
VR: Sim, desde o começo o José Carlos Sardagna, o João Zaratine e eu estamos juntos nessa jornada. Logo trouxemos também o Anderson Borges. Fiz faculdade com o Sardagna, fizemos o primeiro estágio juntos e depois de passar por outras empresas conhecemos e trabalhamos com o João e com o Anderson. Antes da ContaAzul montamos uma empresa de desenvolvimento de software sob demanda, a Informant onde trabalhamos juntos por alguns anos até criarmos o ContaAzul. Estou contando esses passos que demos juntos para mostrar a importância de conhecer bem e ter afinidade com os sócios com quem você vai trilhar esse caminho.
GS: O que motivou vocês a buscarem investimento?
VR: Para que a gente pudesse ajudar o maior número de pequenos empreendedores o mais rápido possível, precisávamos de ajuda. Essa ajuda era não só o dinheiro, que nos permitiu contratar os melhores profissionais para compor o nosso time, mas também a possibilidade de aprender com quem já fez empresas de sucesso e passou por desafios similares aos nossos. Temos a possibilidade de conversar com pessoas muito experientes do Brasil e de todo o mundo para trocar experiências. Isso nos ajuda muito. Os investidores nos apoiaram a estruturar o negócio e nos tornar líderes no segmento de sistema de gestão online com apenas 3 anos de existência.
Além de dois fundos americanos (500 Startups e Ribbit Capital) e dois brasileiros (Napkn Ventures e Monasshees), em 2013 recebemos um aporte da Valar Ventures, fundo do Peter Tiehl, que foi um dos criadores do Pay Pal e um dos primeiros investidores do Facebook. Recentemente recebemos mais um aporte que teve a participação da Tiger Global.
GS: Hoje podemos dizer que a ContaAzul atingiu a fase de “Escala”, ou seja, não é mais uma startup. Quais são, na sua opinião, os principais fatores que ajudaram vocês a chegar nessa fase?
VR: Foi uma combinação de fatores mas eu acho que o mais importante são as pessoas. É essencial ter as pessoas certas. Não basta só ter as melhores pessoas em cada função da empresa. Elas precisam estar alinhadas com o mesmo propósito, no nosso, o propósito de ajudar o pequeno empreendedor a ter sucesso, e com os mesmos valores, ou seja, com a mesma entendimento sobre a maneira correta de endereçar as situações.
Tendo as pessoas certas conseguimos construir um produto simples e fácil de usar mas que, apesar de simples, resolvia problemas reais dos pequenos empreendedores.
Com o time certo criamos um atendimento ao cliente UAU, ou seja, quando o cliente é atendido por nós ele é surpreendido positivamente. Ele fala “UAU”.
GS: Que conselhos você daria para quem está com uma ideia de montar uma startup?
VR: É um caminho difícil, mas vale a pena. Hoje podemos ver que ajudamos milhares de pequenos empreendedores de todo o Brasil a terem sucesso. Recebemos testemunhos todos os dias que nos enchem de alegria e nos dão a certeza de que estamos no caminho certo.
Ter um ótimo time é fundamental. E quando falo em time, não é só funcionários. A primeira escolha são os sócios, escolha pessoas com quem você tenha afinidade para trabalhar junto e para encarar momentos difíceis. Escolha bons investidores, que aportem mais que dinheiro, que te ajude a atingir os objetivos.
É isso! É um caminho difícil, mas vale muito a pena pela satisfação de poder ajudar pessoas a realizarem seus sonhos.