Sempre quando eu ia trabalhar no desenvolvimento de algum sistema para um cliente, procurava entender claramente o que o cliente queria dizer com “preciso de um cadastro de produtos” ou “só precisa ter um botão para deletar o recibo”. O que ele entende por “cadastro de produto”? E por “deletar um recibo”?
Em 2004 Eric Evans, um engenheiro de software que ficou conhecido por propor uma nova forma de lidar com projetos de software complexos, o Domain Driven Design, criou um termo muito elegante para isso, a linguagem ubíqua (ubiquitous language), ou seja, a definição de uma linguagem comum entre todas as pessoas que tinham que lidar com o software, tanto os engenheiros de software, quanto seus usuários, para garantir que todos estavam entendendo a mesma coisa quando estavam se comunicando.
Gosto de fazer isso no início de meus projetos, por isso vou deixar definidos aqui alguns termos que pretendo usar com frequência daqui pra frente, a começar pelo termo startup.
Startup
Eric Ries fez uma boa definição no seu livro Lean Startup:
Uma startup é uma instituição humana desenhada para criar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza.
Um ponto a comentar dessa definição é que ela é focada no produto ou serviço, e não nas pessoas e nos problemas que essas pessoas têm e que os produtos ou serviços devem resolver.
O produto ou serviço nada mais é do que uma solução para o problema de um conjunto de pessoas. Se nos focarmos no produto ou serviço, corremos o risco de nos perdermos em detalhes técnicos e nos esquecermos do propósito principal de nossas ações, as pessoas.
Também não diria que são condições de extrema incerteza. São condições sim de incerteza, mas não de incerteza extrema. Vc simplesmente não sabe se a solução que vc imaginou de fato vai resolver o problema das pessoas. Se não resolver, vc vai ter que ajustar ou mudar até achar uma solução que resolva, ou até mesmo procurar um novo problema. É incerto? Sem dúvida! É extremamente incerto? Não sei se a palavra “extremo” cabe aqui. Apenas acho que é incerto. Aliás, qualquer busca de solução de qualquer problema é um caminho incerto.
Outro ponto a comentar é o termo “instituição”. Esse termo vem do verbo instituir, ou seja, fundar, criar, erigir, estabelecer. Vejo mais o trabalho nas startups acontecendo como uma organização de pessoas do que como uma instituição. Uma organização, como o nome mesmo diz, é algo mais orgânico, mais fluido. Já uma instituição parece necessitar de um ato de criação.
É claro que é muito fácil comentar em cima do trabalho dos outros, por isso, volto a dizer, Eric Ries fez uma boa definição de startup no seu livro Lean Startup. Gostei bastante quando a li pela primeira vez. O que proponho abaixo é apenas uma “refatoração” da definição do Eric Ries:
Uma startup é uma organização desenhada para criar uma solução para um problema de um conjunto de pessoas.
Quando uma startup deixa de ser uma startup?
Excelente pergunta! Já vi algumas discussões interessantes na web sobre o tema: Twitter é startup? E o Slideshare? A partir de um certo número de funcionários deixa de ser startup? Ou a partir de uma certa receita é que deixa ser startup? Ou a partir de um certo número de anos desde a fundação deixa de ser startup?
De acordo com a definição acima, a startup é desenhada para criar a solução de um problema. Sendo assim, uma vez que a solução do problema foi criada, não é mais uma startup, é uma operação normal de algo já criado. A questão é que, para chegar a essa solução, pode-se levar um bom tempo. Por exemplo, imagine que vc lançou um produto web gratuito. Seus usuários estão muito felizes, seu produto é ótimo. O problema deles está resolvido, mas não por muito tempo, pois vc não terá dinheiro em caixa para a sua operação. Vc ainda não tem nenhuma fonte de receita. Nesse caso, vc ainda é uma startup, pois vc ainda não criou uma solução para o problema dos seus clientes pois vc não vai durar muito tempo sem dinheiro. Enquanto vc não arrumar uma fonte de receita suficiente para pagar seus custos, vc será uma startup.
Pode existir startup dentro de uma empresa estabelecida?
A definição acima permite que existam startups dentro de empresas estabelecidas. É uma forma de se resolver novos problemas de clientes atuais ou de novos clientes. A Locaweb tem feito muito isso ao longo de sua história. A Caelum acabou de fazer isso ao lançar sua linha de cursos online.
Várias empresas estabelecidas usam o modelo de startup para inovar. A necessidade que as empresas estabelecidas têm de inovar vem da própria necessidade de sobrevivência das empresas. Uma empresa que não inova acaba acaba não se adaptando à s constantes mudanças do mundo, do ambiente que a cerca e que cerca seu cliente. Com essas mudanças, os problemas dos clientes tb mudam e, consequentemente, a solução para esses problemas terá que mudar. Daí a necessidade de inovação. Simples assim!
A inovação para empresas estabelecidas, que deixaram de ser startups, pode vir em um dos modelos abaixo:
Próximo post
No próximo post, que irei publicar amanhã, outra definição, a de produto web.
Comentários
O que vc achou das definições acima? Fazem sentido para vc? Vc já encontrou outras definições bacanas? Compartilhe! 🙂